Refúgio

Apenas um canto, com canto de pássaros.

Apenas um verde, com o verde dos louros.

Um amanhecer de bugios, com névoa na mata.

E a fresca brisa a nos refrescar.

Sem luxo, sem lixo, sem ar poluído.

Sem água encanada, bebida na fonte.

Com vacas em cria, de bezerros malhados.

E sol no horizonte, vermelho em brasa.

Com luz de luar, satélite a passar e silêncio de paz.

Com grito de sapos, terra batida e banhos de balde.

Conversa noturna, chiado de rádio e estrelas no céu.

Com vento nas árvores, nas árvores nativas.

Jacarés na lagoa, araras nos céus e lagartos no pó.

Um cochilo em rede, um deitar no chão e um rir de bobeiras.

Um fazer satisfeito, um esquecer de problemas e uma paz no espírito.

Uma face-a-face, um colaborar e um conhecer.

Um necessitar, um acolher, um partilhar.

Um relembrar, um reviver, um construir.

Um conviver, um plantar, um aprender.

Um refúgio.

De nome. De forma. De tudo.

Das mazelas da vida.

Da cidade e dos seus decibéis.

Do medo da noite, das contas de luz.

Dos falsos amigos e dos inimigos.

Da água encanada com gosto de cloro.

Da cadeia das grades dos nossos portões.

Da hipocrisia da sociedade.

Refúgio.

Do cultivo do pisar em quem é mais fraco.

Das humilhações por que passam os simples.

Das privações por que passam os pobres.

Apenas um sítio. Refúgio.

E muitos não conseguirão visualizar o seu significado.

A sua beleza. A sua simplicidade. A sua pureza.

O seu silêncio. A sua escuridão. O ferver do leite colhido na teta.

Refúgio.

Quem o vive, o sabe!

Quem o vive, o sente!

Quem o vive, VIVE!

Charles Lucevan Rodrigues
Enviado por Charles Lucevan Rodrigues em 13/09/2014
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