Refúgio
Apenas um canto, com canto de pássaros.
Apenas um verde, com o verde dos louros.
Um amanhecer de bugios, com névoa na mata.
E a fresca brisa a nos refrescar.
Sem luxo, sem lixo, sem ar poluído.
Sem água encanada, bebida na fonte.
Com vacas em cria, de bezerros malhados.
E sol no horizonte, vermelho em brasa.
Com luz de luar, satélite a passar e silêncio de paz.
Com grito de sapos, terra batida e banhos de balde.
Conversa noturna, chiado de rádio e estrelas no céu.
Com vento nas árvores, nas árvores nativas.
Jacarés na lagoa, araras nos céus e lagartos no pó.
Um cochilo em rede, um deitar no chão e um rir de bobeiras.
Um fazer satisfeito, um esquecer de problemas e uma paz no espírito.
Uma face-a-face, um colaborar e um conhecer.
Um necessitar, um acolher, um partilhar.
Um relembrar, um reviver, um construir.
Um conviver, um plantar, um aprender.
Um refúgio.
De nome. De forma. De tudo.
Das mazelas da vida.
Da cidade e dos seus decibéis.
Do medo da noite, das contas de luz.
Dos falsos amigos e dos inimigos.
Da água encanada com gosto de cloro.
Da cadeia das grades dos nossos portões.
Da hipocrisia da sociedade.
Refúgio.
Do cultivo do pisar em quem é mais fraco.
Das humilhações por que passam os simples.
Das privações por que passam os pobres.
Apenas um sítio. Refúgio.
E muitos não conseguirão visualizar o seu significado.
A sua beleza. A sua simplicidade. A sua pureza.
O seu silêncio. A sua escuridão. O ferver do leite colhido na teta.
Refúgio.
Quem o vive, o sabe!
Quem o vive, o sente!
Quem o vive, VIVE!