SOBRE NOMES - II 
      Também texto da década de 1990; também Republicação

                 


 
           Segundo a tradição (em minúsculo porque trata-se de tradição exclusivamente de cunho pessoal, nem do inconsciente coletivo nem de Tradição-ela mesma- assim mesmo, com T maiúsculo, que cada qual de vocês intua ou pense ou sinta ou creia segundo as estradas ou veredas que melhor lhes aprouver) quando não havia telefone, nem imprensa ou rádio nem TV nem INTERNET, tempo em que as palavras passavam das bocas para os ouvidos, claras como cristal e havia um centro que todos conheciam, Ana era Ana (ou deveria ter sido), Jorge era Jorge (ou o mesmo,  com outro nome),  Alberico era Alberico  (com sua variante), Zuleika era Zuleika (ou quereria ter sido) e ninguém ainda explicitava as dúvidas sobre o próprio nome ou os nomes dos seus duplos.




                          




        A memória é um tempo sem saída, um labirinto, e também espelho (Borges já escreveu até à náusea sobre estes, a mim só cabem meras palavras sem nada no bojo). Apesar desses nadas no bojo prossigo, dizendo, em paupérrimo indigente simulacro, que os nomes a circularem pelos corredores sem fim e sem começos, também vão se deformando ad infinitum.
        Os nomes podem ser leis azuis, ou ocres, ou sépia, ou preto e branco, ou não terem cor definível, como certas saudades, como o amor, como algum animal mitológico ainda não pensado. Acima de todas as coisas, me é doloroso saber que o teu sonho, a mim por ti contado com todos os requintes e detalhes, será, para sempre, apenas e tão somente TEU SONHO, inalienavelmente apenas TEU.