SOFREGUIDÃO DO CORPO

O corpo confidencia: agradas. Surda presença da solidão. Sino a acordar os nervos. Nascem assim os grandes momentos, nem sempre os magistrais amores. O côncavo e o convexo, a depender da rarefeita possessão; no amar, raro acontecimento. Em regra, ocorre a opressão sobre o sujeito-objeto amado. O corpo dirá se gostas e se ficarei teso em pousar-te. Boca ocupada com o hálito das palavras. De memória, a celebração. Ocupa o sangue e foge no vulto das ausências. O poema louva. Bênção. Escrevo como se respirasse. Num só resfolegar, abrindo os pulmões ao ar que chega e depois se esvai. E leva o sopro do existir. Assenta-te junto ao poema. Ele é abrigo aos estragos das lufadas do vento. Perdão pela ousadia. Sinto medo do after day. Estás comigo no ciúme que inunda o etéreo, sai pelos poros e me torna ofegante. E a festa está completa na sofreguidão do corpo. O sangue das vinhas ficou à espera do derradeiro gole...

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014.

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