FELICIDADE ESTRANHA

Estranhamente me senti feliz. Não entendi o que de fato acontecia comigo, apenas sentia aquela alegria invadindo meu ser, dando vazão a sensações inebriantes, apagando, pouco a pouco, o ego ferido.

Antes, papel de vítima assumida, hoje, rasgou-se o véu para que eu pudesse enxergar melhor minha realidade quanto ser HUMANO, que erra e que possui uma carga excessiva de defeitos.

Evidentemente todos somos preenchidos por sentimentos ainda não perto de plenitudes, esvaziando nosso ser. Pois, acredito, embora, erroneamente, que tudo que perpassa a questão do sentir possa, em certo grau, modificar-se com o tempo e com as novas realidades a que eu venha vivenciar.

Sou capaz de entender, ou melhor, compreender o que se passa comigo. Aprendi que sou uma criatura em constante mutação. Como posso exigir conhecimento de tudo se não vivenciei tudo? Ou ademais, como posso cobrar uma postura sensata se minha realidade sempre foi linear... por isso aprendemos mais com os problemas, eles geralmente oscilam nossa forma de pensar.

Pensar na realidade é convencer-se que sofreremos, isso é fato. Não adianta viver em fantasias nas quais você será a única pessoa no mundo que gozará de plena felicidade. Se você respira, inevitavelmente poderá sentir falta de ar. Somos humanos mortais, logo sabemos que algo nos espera, hoje, amanhã, sem data e hora marcada... todos sabemos que a morte existe, e que não escolhe classe social, cor, religião e muito menos questões intelectuais, e mais uma vez repito: isso é um fato. Então, passei me sentir feliz. Estranhamente feliz, por conseguir chegar nesse despertar de consciência.

Ao nascer uma criança o que a faz viver é o brado choro que ela ecoa na desobstrução de seus pulmões. Assim, somos nós, assim sou eu. Que de quando em quando, necessito limpar os pulmões imersos em águas para que eu possa respirar eclodindo em choro a alegria da vida.

Estar vivo significa tudo, menos felicidade constante, plena e eterna. Isso numa conjuntura realista, mas positiva. Aprender que mesmo fazendo por onde tudo dê certo e, que mesmo assim, eu possa cair em decepções é conseguir chegar à dimensão ápice de saber ser um humano, todavia, HUMANIZADO. É passar a notar a complexidade de ser racional e de ser deliciosamente envolto de sentimentos.

Encontro-me feliz, embora estranhe a felicidade que sinto, não como algo punitivo, mas como parte do amadurecimento real de uma simples criatura que está na escola da vida buscando viver mediando dores e alegrias, pesares e euforias, choros de tristezas. O que somos afinal: uma dualidade... dicotomia de sentimentos? Somos razão e emoção.

Hoje convido a todos para que juntos mergulhemos nos mares da vida, nos rios caudalosos das emoções e nos icebergs do ser racional. Deixemos de lado a compostura que mata o ser real e belo que somos, essa alegria complexa ou tristeza estranha faz parte da natureza humana, da natureza dos que aprenderam a refletir sobre si mesmo.

Minha felicidade estranha é permitir que eu abra todas as gaiolas que prendem meu sentir ou meu pensar. Quero que minha felicidade seja a liberdade de ser no momento que se é. Quero ser humano no que eu venha lamentar ou a sorrir. Quero ser estranhamente feliz.

Anne Lima
Enviado por Anne Lima em 05/09/2014
Código do texto: T4950317
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.