Brumas.

Da janela da alma, observa sob o cristalino embaçado, a luz lá fora.

A primavera anuncia-se no amanhecer rasgando os véus mais cedo.

O canto dos pássaros faz-se mais convicto lembrando vida.

Mas dentro de si, traz um peso, uma neblina que impede de ver as cores. Os sons da vida são abafados pela tristeza, a luz do sol não passa

da janela com seu vidro opaco e empoeirado. Seus olhos refletem a mesma falta de brilho, a mesma tristeza na dor contida que disfarça em um sorriso forçado. Todos os dias a mesma solidão dói-lhe nos ossos,

o mesmo silêncio quebrando como ondas repetitivas dilacerando a vida.

Vida? Não lembra-se mais... Ou talvez nunca a tenha experimentado em seu sentido pleno, essa dádiva lhe foi tomada pela desesperança desde a

tenra idade. A dor, essa sim, sua companheira fiel desde sempre.

Na carne e no cerne da alma, no mais íntimo de si predominara desde cedo aquela sensação de não pertencer ao universo.

Seu coração já veio condenado e foi colocado em mãos, aberto dependendo daquele "milagre" para refazer-se. Voltara à vida, qual inseto que ressurge de uma incrível metamorfose, frágil e com sede de

vida. Ganhara asas que lhe foram cortadas, e arrasta-se, rasteja.

Às vezes a vida mais lhe parece uma imposição do que uma dádiva desejável e a ordem é recomeçar ressurgindo das suas cinzas.

Batalha travada a cada clarear de novo dia. Mas um bom guerreiro enfrenta a batalha e sobrevive a ela esperando sempre superar.

Embuída desse espírito de luta é que essa alma recomeça sempre.

A propósito, a noite avança, a caminho há luz que lutará contra o vidro embaçado e toda a escuridão. E há esperança de que surja algum brilho no olhar ainda.

Elenite Araujo
Enviado por Elenite Araujo em 03/09/2014
Reeditado em 01/12/2014
Código do texto: T4948751
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