Quebrado
As palavras já não saciam mais as necessidades de expressar-me.
Elas são poucas pra definir o meu sentir
O meu corpo já não suporta tanta diversidade de emoções
Meus dedos já não acompanham mais o meu pensamento
Se é que algum dia já acompanharam
As minhas lagrimas já se tornaram minha oração
Pois já não existem mais palavras que eu queira pronunciar
Pois meu rosto molhado já diz tudo o que não consigo descrever
Seja por gratidão, por amor, ódio ou tristeza.
A minha carcaça reage do mesmo jeito e as palavras parecem tão ocas.
Tão vazia de mim mesma.
Já cheguei ao ponto de me perder em algum labirinto por ai.
Crivos que nem meus eram.
Escutei outro dia, Milton Nascimento cantava:
“Sou eu caçador de mim”
Parafraseio: “sou eu um cientista, pesquisador de mim”.
Se é que a gramática me permite.
Mas eu cansei de analisar meus passos.
No relatório, não tenho nada para concluir.
Perder-me-ei, finalmente, no meu próprio destino?
Se tenho uma certeza, é que
Amanha acordarei e farei coisas que eu gosto
Vou me sentir meio preenchida, meio embaraçada.
E a noite me darei conta que ainda existem espaços vazios
E que a plenitude demorará me alcançar.
Abaixarei minha cabeça para agradecer os afetos que me são dados
E lagrimarão meus olhos quando me deparar com os pedaços que ainda faltam
Naquele maldito espelho quebrado, a minha consciência.
Atirarei flechas de ódio imaginarias durante o banho, lembrando que ainda não sou ninguém.
Levantarei minha cabeça de olhos fechados, pensando na palavra “Deus” sem mais nada a pedir.
Sentindo os cacos de vidro atravessando meu pulmão.