Viagem no Tempo
Naquele tempo você me deu tudo, amor, coragem, abrigo. Você me deu esperança e fé. Você me deu os filhos que eu nao tive, mas sonhei, e que me olhavam com o mesmo azul profundo dos seus olhos. Você me deu tanto, e assim eu fui capaz de desamar a outros, de reamar a elas e de aceitar enfim.
Você me deu tanto, uma crença nova, cheia de um esoterismo particular, você me deu palavras e acordes e risos que não existiam em nenhum mundo. Me deu minha ilha e sua trilha sonora, tão minhas, onde você ainda existe em todos os cantos, todos os cheiros, todos os tons. E lá eu te dei meu beijo e meu crepúsculo, uma chance e o meu coração. Mas você me deu seu silêncio quando eu fui tumulto, e eu te dei meu medo quando você foi hesitação.
Você, que antes tomara conta de mim, me tomou meus mundos, meus gritos, minha implosão. Me tirou o céu, deixando o chão. Para quê quero chão, se minha ilha agora é densamente povoada por desilusões e ausências? Pra quê quero esse tempo dilatado, distorcido, incongruente? Para que servem partituras surdas numa estante intocada? Para quê quero tanto do que existe em um mundo diferente do meu?
Persigo nossas frestas, agora sei que faz muito tempo que estávamos de mãos dadas, foi há quinze anos atrás, ou foi daqui há quinze anos, tanto faz.