A ÚLTIMA CARTA

Eu vim para dizer adeus, pois naquela época eu não saberia dizê-lo. Hoje, vinte anos mais tarde, pobre de esperança, e rendido ao peso do tempo que se amontoa em dias, resolvi aceitar, finalmente, que tudo acabou! - se é que se pode falar nessa possibilidade para quem ama e sonha... e quase em desespero, como em um prazer masoquista, se volta ao passado e tenta reter reminiscências... como quem tenta segurar por entre os dedos a areia fina do deserto, ensolarado pela vida do pensamento - que é a vida em si! Mas como posso dizer adeus se caminhas comigo nos lugares que vou, enquanto paira na memória a tristeza que tua ausência me causou. Lembro que me tornei amigo do teu irmão só para entrar em tua casa e te ver de perto; e lembro, de paixão, um sentimento recíproco e verdadeiro que nos envolvia a cada encontro. Mas veio um temporal, e um período de trevas, que te arrancou de mim e te pôs longe. Após a tua partida, a tua casa - que era um cenário de luz - fechada, sem ninguém, sem móveis... albergava toda a escuridão de minha alma! Lembro, também, os momentos em que fiquei, de dentro de minha solidão, ao relento, olhando as estrelas e lembrando os teus olhos. Mas como posso dizer adeus se caminhas comigo nos lugares que vou, se estás em toda a beleza que vejo, e em todos os poemas que escrevo.