BORBOLETA
Pelo lado de dentro há tanto tempo e há tantos mundos
desaprendi tudo o que seja vida em voo.
Quem me dera outra vez borboleta... qualquer coisa alada...
algo que nade
algo que corra
qualquer coisa que não seja viva só pelo pensamento.
Acho que estás querendo muito...
Sonhar ainda? Ora, pois. Acorda.
Que uma janela te baste e continue a ser teu tudo.
Afinal, como diz Drummond:
"Você não está mais na idade de sofrer por essas coisas".
É, mas o próprio Drummond diz nesse poema
que não estar mais na idade de sofrer por essas coisas
é estar morto, e eu, esta euzinha aqui,
apesar do que diz a todos e do que se diz sempre
está viva, ainda.
Bem sei, mulher, que ainda estás viva.
Uma criança antiga em tua alma brinca
e tua adolescente chora.
Tu te recordas fundo, de repente.
Não te sei dizer palavra, mulher.
Não te sei também dizer da vida.
Só algo ouso dizer-te:
Rejuvenesce um pouco tua esperança velhinha
ao menos a ela rejuvenesce... o que te for possível...
Alguma esperança seja tua borboleta.