Na Madrugada
Vem comigo pra varanda Zé
Vem comigo pra varanda e sente
Sente o mundo vibrar
E se achas o mundo grande demais
Demasiadamente grande pra se sentir
Então não tentes senti-lo todo Zé
Sente só tua cidade ela vibra
Os semáforos e os faróis vibram na noite
E de dentro de casa não vemos essas coisas
Vem comigo pra varanda e olha
Vês? Enxergas? Não olhes pra mim assim!
Assim, como se tratasse de uma insana
Olhes para lá e veja os traços luminosos
São trajetos de fuga, alguns são vermelhos de angustia
Vem, vem pra varanda comigo e respira
Da pra sentir o cheiro da fumaça dos carros
Parece o cheiro da presa e da ansiedade
A gasolina queimando nos motores cheira forte assim
Eles correm, correm pela felicidade que querem
E da pra sentir o cheiro de algo veloz a fugir
Não te saias de fininho não visse Zé
Ficas comigo na varanda e acende meu cigarro
Quero companhia na contemplação
Pois parar a observar a fuga alheia não é normal não
Coisa de maluco sabe
Ah, Zé! Deveríamos tentar fugir um pouco também
Às vezes acho que desistimos
Desistimos da emoção de vez... Desistir nunca foi de mim
Foi tu Zé, foi tu que me fez desistir da fuga
Então hoje ou foges comigo ou fujo de ti
Vem pra rua comigo Zé
Vou só colocar o meu casaco
Vem pra rua comigo que eu quero fugir do hoje
Não, não quero fugir de ti, mas da rotina cotidiana
Não, não odeio nossos dias meu Zé
Só não desejo virar uma arvore nesse jardim de pedra
O cotidiano pode ser lindo quando temos olhos novos
Vem, vamos ver a rua de perto só porque não morremos
Precisa de motivo maior não visse Zé
Não morremos ainda e ponto
Vem pra rua comigo e viveremos um pouco mais
Vem, vem-ti-embora e não reluta.