Melodias Tristes
Estou e sinto-me desde sempre velho ouvindo antigas melodias de outrora para todo o sempre tristes, que me fazem sonhar e chorar, e por detrás desta máscara austera de emoções bulímicas, escondo uma sensibilidade que é só de e para mim.
Comove-me hoje e desde sempre o sonho ideal que impele as pessoas, muito sinceramente, em contraste com a minha pessoa que apenas anseia uma boa noite de sono sem barulhos, nem telefonemas urgentes, nem projectos de dias de amanhã quaisquer, apenas um para todo o sempre reconfortante fingir de morto no meu leito de irrelevância.
Esta música que me invadiu o imaginário e percorre o meu âmago diariamente e desde sempre, faz como que transparecer a inocência de povos depreciativamente ditos primitivos, com ancestral sabedoria do viver simples e harmonioso, transbordando numa concórdia quase idílica e contagiante.
A verdadeira congruência da Humanidade estampada: na busca do santo graal da suprema serenidade de espírito, na budista paz infinita do contentamento e realização do grande Siddhartha.
Queria fazer desabrochar a tristeza que trago em mim em orquídeas amarelas de cetim num qualquer sem jardim.
Quando só me encontro na ausência de luar, na desesperança da solidão, na inconsequência do alcançar.
Músicas tristes percorrem o meu coração invadido por enxames de extrema desilusão, afogado em absinto de mercadores de frustração.
Gloriosos os bem-aventurados que inegavelmente se sentem em paz e realizados, imbuídos na sua miragem divina.
Quanto a mim até mais ou até quando posso continuar a insistir no masoquismo de viver.
Lisboa, 24-10-2013