Inocência
Percorrendo descalço as areias da praia soltas,
Desvendo tesouros que se escondem a meus pés,
De mil e uma conchinhas trazidas pelo mar,
De tantas cores e feitios diferentes e iguais,
Esforço-me em nada pisar e estragar ao andar,
Imaginei-as todas juntas alternadas num colar,
E fiquei a descobrir a quem o poderia ofertar,
Continuei sempre em frente sem nunca parar,
As conchas com o cândido discriminar corrompidas,
No desabrochar da inocência perdida ao vazar das marés,
Alimentaram-me a pobre alma de sofismas inalienáveis,
Anseios paulatinos de idolatradas hegemonias fabuladas,
O resto são lamentos por não julgar ninguém prendado,
E o tempo ter irremediavelmente por mim passado,
Sonhei naquele magnífico colar me ter enforcado,
Fiel assessor do acaso em lembranças de condenado.
Lisboa, 21-10-2013