Inocência

Percorrendo descalço as areias da praia soltas,

Desvendo tesouros que se escondem a meus pés,

De mil e uma conchinhas trazidas pelo mar,

De tantas cores e feitios diferentes e iguais,

Esforço-me em nada pisar e estragar ao andar,

Imaginei-as todas juntas alternadas num colar,

E fiquei a descobrir a quem o poderia ofertar,

Continuei sempre em frente sem nunca parar,

As conchas com o cândido discriminar corrompidas,

No desabrochar da inocência perdida ao vazar das marés,

Alimentaram-me a pobre alma de sofismas inalienáveis,

Anseios paulatinos de idolatradas hegemonias fabuladas,

O resto são lamentos por não julgar ninguém prendado,

E o tempo ter irremediavelmente por mim passado,

Sonhei naquele magnífico colar me ter enforcado,

Fiel assessor do acaso em lembranças de condenado.

Lisboa, 21-10-2013

Paulo Gil
Enviado por Paulo Gil em 25/08/2014
Código do texto: T4936583
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