OS CRISITAIS DA SOLIDÃO
Tanta gente no mundo tão só no meio de tanta gente... É a solidão que
chega e que sufoca e que constrange... todos a volta de todos são
tudo, são o ideal. E os homens se ilham cada vez mais dos homens... a
solidão se apossa do que chamamos humanos como um furacão bravo, como
um vendaval guerrilheiro... o ser se perde no vazio e no nada... o ter
é muito mais importante e é esse ter que torna o homem só! Tanta gente
no mundo e ninguém! Todos querendo subir, alcançar a glória. Não há
ninguém que olhe nos olhos dos outros e veja um homem e lhe estenda a
mão. O ter sobrepuja qualquer possibilidade do verbo ser conjugado no
presente. E nós nos machucamos uns aos outros e machucamos a nós
mesmos. Nos quebramos, nos estilhaçamos na tentativa de procurar
alguém e nem a nós mesmos nos encontramos. Nada nos impede de
prosseguir na nossa louca busca de escalar o topo para a vitória. Não
há barreiras, não há empecilhos que nos detenham. Não há homem que nos
segure. E quando alcançamos o topo, já estamos tão cansados que não
possuímos mais forças, que não conseguimos mais respirar, pois
esmagamos, estilhaçamos todos e tudo e enterramos o punhal dentro de
nossa própria carne, que sai sangrando de solidão. Nem a paixão é tão
forte a ponto de estancar o sangue... É nesse topo que olhamos para
baixo, e que nos faz calar e sofrer, é que vemos que nada vale nada,
porque arrancamos as máscaras que nos estrangulam e nos incentivam a
guerrear com fome no vencer e atingir a felicidade! Como se esta
felicidade estivesse lá no topo e não, comente, dentro de cada um de
nós. E a solidão, mais uma vez, nos envolver perversa, profunda,
inviolável. E mais e mais os homens se isolam uns dos outros. Seu
grito fica preso na garganta sem um eco, sem uma palavra. É tudo e sua
voz é atirada de encontro a parede fria e concreta. O seu ser se sente
perdido, confuso no meio de tantas vozes, de tantos seres que não te
vêem, não te olham, não te conhecem. E você começa a se doer e, para
tentar aplacar essa dor, vêm as máscaras, as fantasias, os dominós,
que voam mais alto que um pássaro liberto. Só os sonhos estão com
você. E são os sonhos que te fazem andar por uma estrada qualquer a
procura de algo, a procura de alguém, a procura de você mesmo. E seu
corpo envelhece e fica marcado pelos punhais do bicho dito homem que
dilacera a carne e transpassa a alma pela luta da sobrevivência. E
seus olhos percorrem o exterior, encurralados, arregalados,
assustados, sem saberem o que os olhos procuram e o porquê que olham se
não veem ninguém, se não mais se conhece e se espanta por não se
reconhecer. Você só vê sangue, miséria, fama, cicatrizes, marcas que
os homens lhe atribuíram. Tanta gente no mundo e ninguém... Mas de
repente o sono lhe entorpece e o sonho lhe embebeda. E você olha ao
redor e vê a natureza, a paisagem tão só como você e se reconforta e
se encontra e para de se doer... Mas o amor vai-se partindo e se
consumindo na lareira do fogo do vento. Mas o êxtase me levanta o
mastro e redemunha meus pés na poeira. Que venha a solidão, tão
própria do humano! Que venha me fazer amor que te amarei sempre na
eternidade! Mas que venha em êxtase, porque te receberei e te
aceitarei em êxtase! No êxtase da minha paixão, do meu sofrimento, da
minha não glória e da minha não humanidade, porque sou feita do êxtase
do nada revestido pelo cristal esfacelado da solidão...