DESTINO
Uma estrada - talvez longa e infinita - apresenta-se ao longo da
terra. Sinto-a forte e potente. Meu corpo vibra e estremece, talvez
pela irradiação do sol viril, que brilha na eternidade final da
estrada. São várias bifurcações, sem placas, sem direções, sem
sentidos. Não se sabe o que se encontrará e não se sabe para onde vai
dar. É necessário um momento. Um instante para ter coragem e adquirir
fôlego. Fôlego para o risco, para um destino qualquer - o nosso -,para
a surpresa, para o desconhecido - que tanto fascina e assusta. Porque
é preciso que se arrisque já que não há sentidos nem direções certas a
serem seguidas. Talvez tenha sol, talvez tenha chuva. Pode-se
encontrar o tudo, mas também pode-se encontrar o nada. Cada instante é
vital e fundamental. Não há tempo a perder. Somos um sopro de vida
querendo viver sem saber até quando. Não é possível recuar, não é
lícito voltar. O momento é apenas o agora. Cada passo no chão ou na
estrela. Hoje. Agora. Já. Ser até não mais poder, até não mais
aguentar. Ser no hoje e na infinitude do querer abraçar o desejo que
voa como um pássaro incansável a procura do existir.
A estrada nos chama - com seus caminhos e com seus atalhos - a
transpassar o coração que bate no compasso da emoção pela vida de ser
agora e que não será depois e o que não foi um dia.
A chama explode na paixão da entrega. Sem medir amanhãs, sem medir
consequências, sem medir dores e angústias. O prazer da emoção é
apenas um instante - talvez fugaz demais para se crer que existe -
válido e irreal, onde o ponto nevrálgico da carne é seu alvo certeiro
e cobiçado.
Deixemos que o destino se encarregue de escolher a bifurcação da
estrada. Nos entreguemos a ele que guiará nossos pés e nossos corações
pelas estrelas da eternidade, pela explosão da vida inundando a dor
que é viver. Porque viver machuca e sangra como o espinho da rosa. O
ato de respirar exige um esforço muito grande, porque representa vida.
Mergulhar de cabeça, mesmo quando não haja água por baixo. mesmo que
só exista lama e lodo. Não importa o que aconteça. Vitórias. derrotas.
O jogo deve ser começado e os dados lançados. É impossível se prever o
término. O jogo é o próprio precipício com seu salto mortal ou fatal.
Com seu salto para a própria libertação de toda a carcaça mascarada
que nos reveste o espírito e nos encobre o corpo. Pode ser hoje,
amanhã. Pode ser nunca. O resultado é o destino - perverso
acompanhante - que nos obriga a caminhar por um lado ou por outro. Ou,
quem sabe, por ambos?
Agir em nome da paixão. Agir em nome da vida que nos invade a cada
instante em que sentimos que existe sangue a circular na carne. Que a
vida nos esvaia e nos deixe em eterna sangria. De emoção, de paixão,
de sedução. Fecho meus olhos e sigo a estrada. Para onde? Não sei.
Caminhar já é um sentido e isso me basta. O destino se encarregará do
resto. Do resto que sobrar da minha queda. Da minha queda de encontro
ao que sou, livre de qualquer subterfúgio criado em nome de qualquer
verdade que se faça real. De encontro a minha própria verdade, que não
é feita de certezas, mas apenas de sentimentos e emoções, que me
arremessa sempre ao estado fascinante da fascinação e da sedução. No
ato de emitir a vibração de estar aqui e agora expondo o que sou
através do coração, numa arte que não admite dominós, não admite
barreiras, não admite convenções. A arte pura e simplesmente de me
entregar a paixão de existir agora, neste instante. No momento da
sedução. O destino é entrega. É humano, demasiadamente humano.
Crenças? Creio no destino, creio no ser humano com todas as
imperfeições e falhas. Mas, principalmente, creio no jogo perigoso da
emoção apaixonante da paixão, que me remete ao estado de constante
sedução. A sedução de poder sentir e me entregar nas mãos invioláveis
do destino violável.