HABITANTE DE MIM
O mar tão calmo! A maresia exala no ar a sinfonia do sentir... Exala
no ser a orquestra do amor... Bombeia o coração... Lateja a veia...
Esvai a pulsação... O silêncio é tudo e a montanha está coberta de
neve... Orvalhar! Branco puro, indefeso... É silêncio somente! O mar
está calmo na correnteza do rio das águas de sangue... O coração
dispara e arfa e morre... O oceano é límpido, é transparente, é ser...
As montanhas cobertas de branco fotografam a paisagem do céu e do dia
e do sol que se através a porvir na estrada do oceano que dorme... É
silêncio e o eco se cala e seca na garganta transbordante do ser que
vive... O mar está calmo nas ondas inexistentes, nas ondas mortas, nas
ondas adormecidas... As casas são grandes e sólidas e fechadas... Não
há janelas, não há ar, não há abertura... O mar invade o silêncio do
caos tétrico dos habitantes da casa... A neve derrete... O oceano
vem... Inunda o horizonte intransponível da solidão... Geme e geme
mais o coração arfante e agonizante do ontem... O rio transborda
sangue... As veias se transformam em estradas bifurcadas e rasgadas
pelo sentir... O mar está calmo mas invade o ser que existe no oceano
inundando as casas fotografadas pelas montanhas... O sentimento flutua
no ar que exala o perfume infecto dos donos da casa... O céu está
limpo, claro, solitário... Réstia de sol que cobre a loucura da noite
de ontem e do dia de hoje coberto da pureza branca nevada... Loucura
de sentir o sentimento global e total do frio da estrela que brilha
gotejante no coração arfante... A neve derrete na montanha e o mar
avança impulsionado pelo sangue do rio chamado Vida e pelo suspiro
lascinante do coração que ecoa a vontade infinita de viver a vida da
neve, da montanha, do sol, da noite do ontem, do hoje e do amanhã...
As ondas flutuam no ar que exala e devassa o oceano profundo do sangue
e das veias que emergem do ser animal adormecido e desperto...
Habitante de mim...