Amizade

A amizade

As noites quando vergo os joelhos para rezar, peço perdão a Deus pelo maldito pecado do egoísmo. Pecado que carrego comigo e dia após dia sei saber avolumar dentro de mim.Me reconheço inadvertidamente e inequivocadamente um tremendo e insensato egoístico, (se é que essa palavra existe!), porque quero ter ao meu lado durante todas as horas do dia, os meus amigos. Amigo é lamparina acesa noite e dia para clarear o inexato e dar voz ao indizível. Eu preciso da presença deles para todos os momentos. Quando estou triste penso: Se o meu amigo estivesse aqui ao meu lado, essas horas não seriam tão cinza. A tristeza sem razão que acomete a minha alma ,quando um- não- sei- o- que, vindo não sei de onde, invade-me os olhos, seria espantada para longe com a presença de um amigo. Quando descarrilha o dia e nuvens de solidão ganham força e nitidez no horizonte, não deixo de pensar que se meu amigo estivesse próximo, quando esse prenúncio de tempestades pessoais se avizinha, seria menos tenebrosos os fantasmas que de mim, se acercam nesses instantes. Quero tê-los sempre, lado a lado comigo, no alvorecer de horas inquietantes, em alguns desvão dos meus dias, nos desacertos das horas, quando, absolutamente, tudo e todas as coisas parece conspirar para que nada dê certo em minha vida. Amigo é gasolina para incendiar nossa alegria de menino. Certo também é que, quando meu coração está festivo, quero tê-los ao meu lado, bebericando, juntos, na taça da camaradagem as razões de minha alegria juvenil. Sem a companhia estridente dos meus amigos, a cerveja é insossa e o petisco tem sabor de pão velho ou amanhecido. Longe de suas presenças alegres barulhentas, todas as cores do mundo adquirem o tom acizentado e frio do nada. Preciso deles, ainda que se façam galhofeiros quando o meu time perde o clássico de futebol; preciso deles, principalmente quando o meu time ganha; ainda que nessas horas o celular dá o sinal de fora de serviço e eles se tornam verdadeiros homens invisíveis. Invisíveis e incomunicáveis! Preciso deles para me queixar da mulher amada, reclamar dos filhos, falar mal do meu patrão, para olharmos com olhares de “__Ah eu já fui bom nisso!”, as ancas largas e as pernas torneadas da beldade que passa indiferente ás nossas humildes presenças na calçada em que desfila. Preciso deles ainda que muitas vezes pra ficar em silêncio, cada um pensando na vida, olhando embevecido o horizonte. Sim, pois a verdadeira amizade também se se alimenta de silêncios, de frases não ditas, de gestos não expressados, ausências consentidas. Sim ausências consentidas, pois vez em sempre os amigos parte em busca de novos caminhos, de outros sentidos para suas vidas. Mas a amizade é sempre espalhada e muito imensa dentro da gente, tal qual a raiz de seringueira, que alavanca muros e calçadas, a amizade alavanca o tempo e a distância, alcançando o amigo onde quer que ele esteja. Por isso a gente sempre busca saber através de outros, o que anda fazendo o velho amigo: __Ainda está com fulana? Perdeu a mania de tomar porre pelos bares e entrar em apartamento errado?!!!! Cabelo e barba branca??!! Não acredito que fez isso! Pela idade já devia ter tomado juízo!

A amizade é assim! Com o correr dos anos, uns engordam, outros emagrecem, outros de barba branca e calvície exacerbada, alguns de cabelereira cinza, outros(Deus me livre!) com a cabeça avermelhada, alguns solteiros, outros casados, outros já quarentões namorando “Lolitas” depravadas, alguns sovinas e rabugentos, outros pé-de-valsa e mão furada . Todos sempre unidos, todos sempre amigos. Vai-se a vida, dia após dia, querendo ou não querendo, envelhecemos, porém a amizade permanece sempre serena, jovem e cristalina dentro da gente!

Alguimar Amancio da Silva