Tempestade final

A manhã chegava depois de uma noite de tempestade, parecia que o vento agora estava mais limpo. As coisas estavam: os carros, a rua e as casas.

Eu estava dormindo e precisava acordar, mas a falta de sono da noite anterior não me deixava perceber essa necessidade.

A chuva derramava seus últimos pingos pelas calçadas, onde um jardim suspenso mostrava as flores da Babilônia citadina, muito velha, mas ainda com a cara de menina, queria brotar, como há algum tempo atrás, quando ainda tinha sossego absoluto, muito antes do luto ou barulho do estrondo.

Por aquelas calçadas passava a gente, batendo sapatos de forma ruidosa, contando lamentos, pulando as poças de água formadas e desestruturadas.

Com o passar das horas, as fábricas intensificavam o barulho das máquinas para produzir bens de consumo, e alimentar o comércio estrondoso, pois esse será o tributo que estamos pagando pela sanha do progresso insano, produzindo para todos, a fim de atender a insanidade de alguns.

As pessoas parecem que estão mascaradas, escondendo os rostos em protestos contra a desumanidade, ou será com medo do seu semelhante fardado, que sofre um bocado pra tomar conta da gente, numa luta cruel, sem precedentes e nem trégua. Seria isso?

O barulho continua aumentando gradualmente, e não é só por causa dos paredões de mil decibéis que estão presos nos carros, mas também pelo que é solto no intenso das horas, e da fumaça que cobre os olhos da cidade de ponta a ponta. Não só caberia a mim essa preocupação, mesmo porque eu estava dormindo àquela hora, mas seria de todos os outros humanos que estavam tendo aquele pesadelo.

Sei que eu acordarei desse sono após este dia de tempestade que caiu na noite anterior, porém nunca acordaremos do pesadelo que nos envolverá a tempestade final que vem por ai no suplício da dor.

Quem for vivo, verá. Não viverá ...