O CRIATÓRIO

Quando em vez, sinto-me uma pedra de rio, um seixo rolado. Viajo na correnteza ágil e intempestiva, no mesmo leito, direto ao desaguadouro de águas largas e profundas. Porém, por vezes, sinto que sou peixe e subo a correnteza em piracema. E nesta, o acasalamento e parto são quase contíguos: o poema percorre a transparência de luz e mistério. É o viver em seu criadouro de novidades: se pedra, pedra, se peixe, peixe, em seu curso sem prévia destinação. O que importa mesmo é a vida, também sem prevista extinção, seguindo em direção ao Rio Profundo. Pedra, peixe, poema, todos têm a mesma consistência placentária. A Poesia fura a bolsa para além desse estado de corpo e pedra...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4928187