Folha Em Branco
A cada instante que sei estar longe de ti, e tenho o conhecimento de que vivo a real-realidade de meus dias, é inspirador, e de certa forma conchegativo, contestar o motivo da minha existência.
O que há de propósito no desproposital? Deveria ser um castigo, e eu fustigar-me ao subjetivo frágil, apenas de contemplar o teu olhar?
Onde estás agora? Cada segundo que tu respiras pode valer a cada lágrima que verte de meus olhos. Pois a cada instante, sinto sua falsa presença a preencher os cantos opacos que fazem a se formar num salão.
Pois é triste apreciar a felicidade na ausência das cores. E o mundo perde os seus matizes. O bel-prazer da própria dor assentada. Tão pura; rica em castidade, e queimada ao prazer do fogo.
E esta chama queima tão lânguida e ocultamente, que não sentimos o furor do holocausto e nem o chamusco do espírito. Como se o coração fosse o borralho da própria alma; que cedeu todas as suas virtudes à procura da miragem que o esplendor do pensamento exalta.
E bem certo, é que para mim o ônix não reluz, mas a luz só está à mercê da expressão de seus olhos. Monótona é a reverberação que o sol desponta ao horizonte, mas cintilante é teu sorriso, que inspira a paz, alegra e vida e expõe a graça da dama. E não existe lua que penumbra à noite, como o seu rosto pode despertar à luz das estrelas. Exala a paixão. Exacerba a vida. Moldura às auras que roçam seus cabelos; e como queria eu poder sentir as minhas palmas a correrem pelos lisos fios acetinados...
Nesse mesmo instante, meus dedos estariam à procura de tuas mãos, como se teu calor fosse o meu sopro de vida; Também contenho o desejo cálido dos lábios, de tocarem seus opostos, e ao mesmo modo, seus semelhantes; E o que dizer de meus olhos, que fitariam tão crédula, serena e incessantemente, que talvez me umedecesse as pálpebras, e doessem os olhos dela; mas todo esse afã, seria unicamente para descobrir o que espelha a tua alma, pois o charme do segredo é a sina da revelação.
O amor exalta e humilha o poeta; Pois sendo poeta, aquele que é senhor entre as palavras; e estas estão a seu dispor. Mas sendo poeta, a maior frustração é não saber definir o amor. Num momento as palavras somem da consciência. Apenas uma chama que crispa a cada ameaça que a mão da inspiração tenta sobrepor. E ficamos ali, apenas nós e a caneta à mão inútil. Sem termos. Sem definições. Somente uma folha em branco.