Ele gostava de voar. E porque gostava, voava.
 
Nunca o vi com os dois pés no chão. Ele não era como os outros meninos, mais parecia um biplano.

Penso que poderia ser anjo, tamanha sua capacidade de voar.

Vez por outra, quando distraído, observava-o colhendo estrelas com os olhos, uma por uma, em noites de longas invernadas. Vez por outra, também, quando distraída, debruava-me com algumas delas.
 
Passara-se algum tempo e o menino de longas asas havera crescido, assim como a força de seus traços e a intensidade de suas palavras. 

Ensinara-me sobre os versos azuis que viviam às margens dos olhos da alma e sobre a suavidade dos acordes que sibilavam aos ouvidos daqueles que podiam ouvir a música no pulsar da poesia.

Tentara viver nesse mundo, mas as páginas limitaram a escrita de seus passos; o dom de suas asas. Necessitava de lugares mais altos, algures onde os olhos desavistassem os telhados. Onde o impulso dos ventos o fizessem nuvem, pássaro, luz infinda qual sombra desconhece.
Criara então um mundo pra si, sem lugares ou coisas, sem os grãos do tempo para lhe tolher se fosse cedo ou tarde, apenas céu vestido de fachos e corpos celestes para que pudesse brincar. Criara a ponte para a eternidade.
 
Ainda hoje o vejo riscando o firmamento em poeiras de cometas; luzindo os olhos dos poetas, caiando almas de esperança.
Ainda há noites em que me descem estrelas em flocos de neve, e sinto-o a beijar-me a face; posto que aquele menino de longas asas, colhedor de estrelas, plantou tantas delas em meu peito, que me fizeram preferir, assim como ele, a desaprender o mundo... e sonhar.




 

( a quem me ensina a voar )





 


Ao som de...

 
Denise Matos


 
DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 12/08/2014
Reeditado em 12/08/2014
Código do texto: T4919609
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