A Chave do Poeta

Depois de correr sobre escombros, por onde a quimera bisbilhota o passado,

a idade reclama do tempo, pois o tempo nunca está do nosso lado.

Mas com a porta fechada, o tempo é quem vigora e não aponta a saída,

Onde estava aquela chave, que ninguém nunca encontra, por ela se achar perdida?

Se no bolso não estava, muito menos na algibeira,

que o tempo por teimoso, sempre segue na carreira.

A chave estava enrolada, no xale de uma doida, doida com um pergaminho, onde ela e uma fada, malvadas de mal caminho, esconderam no seu ninho.

Aberta a porta do quarto, a alma estava guardada, cada vez mais desalmada, por falta de amor, ferida.

Então foi que descobriu, que o segredo está na cara, que o tempo pescou de vara, numa falha sismológica, entre a entrada e a saída, a chave está perdida.

Confuso e tão perdido, o poeta mais desvalido pede alguém pra procurar.

Pegou logo uma caneta, viu o boi da cara preta, sem a chave encontrar.

Foi quando já um pouco tonto, escorou-se lá na porta, enrolado numa coberta.

A dobradiça rangeu, daí o poeta viu, que chave não carecia, pois a porta estava aberta.

Um poeta não se aperta e não fica sem saída, quando está de bem

com a vida se a caneta está por perto.

A chave é a caneta e o papel é aquela porta, basta um encostar no outro, pra acabar qualquer deserto.