Último Carnaval
Na manhã de carnaval
Vejo meu rosto no espelho de outros rostos
Úmidos
Pálidos
Vozes balbuciam coisas que não compreendo
Pessoas se amontoam
Passam
Lembro do cheiro de flores
E da moça de máscara lilás e brilhante
Crianças correm e riem
às vezes choram
Serpenteia em mim raio de luz da manhã
Com pequenas gotas de confetes
Que molham e salgam a terra .
O bumbo toca
Segue o cortejo
A vida segue
Com todas as suas cores
É carnaval apenas
Último carnaval.
No espelho dos rostos é só mais um
Carnaval de todo dia
Cotidianamente ridicularizado.
Hoje sou rei
Carregado pelos arautos fúnebres de minha existência
Repouso eternamente
Nas cinzas da quarta feira.