NEM FELIZ... NEM INFELIZ...



 
Na verdade, não sou feliz nem infeliz... Sou alguma coisa no meio... como uma pedra... a pedra de Drummond... uma janela a olhar a chuva... um coração alheio a bater-me no peito sem que eu tenha feito transplante...o meu próprio coração de repente estrangeiro... um passarinho na palma da tua mão... uma vontade de partir para algum outro encontro... algum outro sentido  ou não-sentido... o silêncio da tua boca a ecoar no silêncio da minha... uma coisa sem nome... um nome sem coisa...
Não sou infeliz nem feliz... até viveria assim como vivo para sempre mas o tempo não para como diz Cazuza e vou envelhecendo depressa... depressa... depressa demais... e em gaiola... dourada que seja... gaiola... o tempo lá fora... sempre lá fora... sempre... sempre... lá fora...  Não pense... não lembre... não pense...
Não sou feliz nem infeliz... Em verdade teria que escrever todo o tempo todo o tempo todo o tempo todo o tempo para não pensar nem mesmo por um segundo em ti nem em mim nem em ninguém nem em nada nem no tempo nem na morte... Em nada em nada em nada em nada em nada... Escrever...escrever... escrever nada até ser só a mão que escreve... mais nada... Não sou infeliz nem feliz...