Tributo ao corpo de Elisa
Alma lisa, corpo estúdio.
Sua alma se foi, não se vê, não se sente. Só seu corpo insiste em se fazer presente.
Seu corpo, que sem querer lhe deram sem você pedir, pois você não nasceu do amor, nem teve infância. Você nasceu para a dor e foi criada para a ganância. Não lhe ensinaram a amar seu corpo, mas fazê-lo amado. E assim você fez de si um corpo ferramenta, um corpo arma.
Seu corpo você deu a quem pediu, emprestou, alugou, vendeu. Em fotos, em filmes, jornais, revistas, cartazes e outdoors. Seu corpo serviu para alimentar desejos e até dar vida.
Da vida dada, outro corpo a ser usado. O usaram e vão continuar usando. Eis que a ganância orientou a guerra, a ameaça, a extorsão e a loucura.
Um dia tiraram seu corpo de cena. Não mais o vemos nem sabemos se vive como nós. Mas não importa. A lembrança dele, a busca por ele sustentam as ameaças e os processos, os flashes, as promoções pessoais e a venda de jornais. Seu corpo enriqueceu alguns, empobreceu outros. Deu fama e poder, cargos e lucros. Encarcerou, matou, destruiu, espalhou desgraça e dor.
Mas vem a noite e seu corpo habita o imaginário e a lembrança de muitos. Incomoda, assusta, aterroriza talvez. Seu corpo permanece presente. A cada ossada encontrada o suspense se estabelece: pode ser seu o corpo que aparece. Fantasma de uns, tesouro de outros.
Mentem, desdizem, inventam histórias, dizem se lembrar de onde está, mas logo se vê que era só busca de novas glórias. Onde andará seu corpo agora? Nenhum cão o comeu. Não virou fumaça. Você passou, mas seu corpo não passa.