ESPELHO MÁGICO
Ó espelho, espelho meu, diga-me quem sou eu?
Mostre-me o que, por orgulho, não vejo; venha contrariar os meus loucos desejos.
Espelho, espelho meu: qual a tua magia?
Serás capaz de desfazeres todas as miragens?
Espelho, por favor, revele-me quem sou.
Outrora tive medo de encarar-te, guardando mesmo certo desprezo.
Ora, sempre fora mais cômodo ocultar-me da verdade.
Idealizada por mim, cultuara uma falsa imagem.
Espelho, o que tens a me mostrar agora?
Saibas que estou preparado para conhecer, embora com certo receio, pois queria ver algo mais glorioso e belo.
Entretanto, o que me revelares não negar-me-ei a crer.
Espelho mágico: quantas vezes terei de apresentar-me diante de ti a fim de reconhecer o meu próprio reflexo?
Explico-me: é que a minha imagem refletida é por certo, bem diferente daquela que fora construída durante tantos anos passados na ilusão.
Ao se olharem no espelho, as pessoas enxergam e experimentam o desejo, em certa medida legítimo, de corrigirem as pequenas imperfeições do seu corpo. Todavia, optam por ignorar e tampouco tentam corrigir as grandes imperfeições da alma, porque afinal para alguns indivíduos, a mesma não passa de uma teoria.
Mas, se todos os esforços dessa sofrida e limitada vida, devem convergir para a aquisição da moeda e do culto ao corpo, convenhamos que a morte torna todo esse sacrifício inútil.
Olhei-me no espelho e chorei, talvez pela primeira vez, lágrimas sinceras.
Espelho, espelho meu: pode alguém ser feliz quando não se conhece, e por consequência, desconhece suas reais necessidades?
A magia do espelho só funciona quando finalmente estamos imbuídos do verdadeiro espírito de coragem.