O RUÍDO DA CHUVA
O ruído da chuva é como a canção,
que nasce no fundo das almas pensantes,
viventes nos corpos dos seres humanos.
Se as almas ouvem-no, brota-lhes da essência,
uma suave melodia, só comparável
ao brilho das estrelas, ao fulgor da lua cheia,
ao canto sublime dos anjos celestiais.
O ruído da chuva!
Fria canção do rio corrente,
nas pedras de limos escorregadios,
e de almas meigas que se alimentam
dos fluidos sutis das águas serenas;
almas bondosas que sentem e vêem Deus,
do interior profundo de suas essências.
Que embala o sono calmo das crianças
nos lares humildes; que vela o morto
dentro do ataúde, onde a alma não mais
habita a carne; que alegra as plantas,
secas do sol de estio nas matas densas.
O ruído da chuva!
No vento frio dos dias tristes de inverno;
nas noites chuvosas de almas desabrigadas;
nas goteiras das casas de almas sonolentas;
na canção de ruído silente no fundo das almas.
Cada pingo da chuva, soa como a canção
das almas em repouso nos campos silvestres;
soa como a canção sensual da sereia,
guiando os pescadores em noites tempestuosas;
soa como a canção repleta de esperança
por dias melhores; soa como o clamor
da multidão na rua, num grito uníssono
à paz, ao bem, ao amor.
O ruído da chuva!
No sono das almas, a canção da chuva
não produz ruído; produz a ternura
invernal de amor nos leitos noturnos.
Ó sonhos espirituais!, que nutrem as almas
de ruídos chuvosos, como um acalanto
de Deus no tempo frio das madrugadas;
Ó noites invernosas!, sem lua, sem estrelas;
sem casais nos jardins; sem poetas na praça
pra recitarem a poesia,
da chuva que cai sobre a terra árida.
O ruído da chuva!
Do ruído da chuva, brota a pura poesia:
repleta de flores, de plantas, de animais,
de rios, de mares, de almas, de espíritos,
de anjos, de Deus.
Deus está na chuva!
Deus é o ruído da chuva!
Deus é a própria chuva!