Este silêncio que parece ter dois mil anos
E só começou agora
A distância entre nós dois
é maior que a distância entre nós dois,
E muito maior ainda
que a distância entre nós dois e o fim de tudo.
Dá-me um infinito que eu o parto ao meio
e temos mais de um paradoxo.
O que vai dentro do vazio é o vazio
que só não existe porque não se concebe
E este é de longe o único horror que conhecemos
ou que admitimos.
O oco do vácuo cria vácuos comunicantes
que não se comunicam com seus interlocutores.
Quando chegarmos no futuro depois do futuro
ainda será futuro.
E haveremos de nos perguntar sobre o que veio antes.
A terra acaba onde o mar vem acabar,
é assim que não sabemos onde nenhum dos dois começa.
Se a vida é um ato, a realidade é uma peça,
os atores da tragédia riem dos atores da comédia
que choram pelos atores da tragédia
E assim sucessivamente num absurdo ciclo,
tanto que não sei se a tragédia é rir ou chorar,
ou se tudo é comédia só para explicar a tragédia,
ou nos confortar inutilmente dela.
Por horror ao vazio eu penso
e por este horror que penso, escrevo.
E me atrevo a crer que haja nisso consenso
ou talvez um pouco de bom senso.
Mas só há um pretenso sentimento de estar pleno
e de ir preenchendo os vazios com os pensamentos
sombrios ou amenos que ao menos faço e pretendo
de uma pretensa e tão inútil poesia
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 30/07/2014
Reeditado em 09/01/2021
Código do texto: T4902605
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.