A Cigarra

Uma cigarra canta sobre a mangueira

 

No fim de tarde da selva de pedra.

 

Sinto o cheiro verde, o som das buzinas dos carros

 

E os risos dos passantes.

 

A cidade é como um altar

 

Da velha senhora

 

De linhas suaves escritas em seu rosto

 

Como um novo poema em papel antigo.

 

A cigarra ainda canta uma velha cantiga

 

Canção do meu velho quintal

 

Onde antes eram várias canções.

 

Nele muitas cigarras cantavam

 

No fim de tarde da cidade-lilás.

 

A cigarra canta uma canção tristonha

 

De memórias da velha mangueira

 

A cidade tem um poema escrito

 

Em cada beco

 

Em cada rua

 

As linhas que traçam caminhos

 

Envelhecem a cada amanhecer.

 

A cigarra ainda canta

 

Renova cada promessa

 

Para não ser sugada pelo esquecimento.

 

Envelhecer é perder velhos amigos pro tempo?

 

Para Regina Passos in memorian

Jaqueline Cristina Sosi
Enviado por Jaqueline Cristina Sosi em 28/07/2014
Reeditado em 01/03/2024
Código do texto: T4899939
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