SUASSUNA E “SUA SINA”
“... Há tempo para tudo!...”
Paro agora, para sentir a falta de Suassuna e de “sua sina” de escrever nossa singular brasileirice.
Os jornais aqui do Sul, neste julho friorento e de chuva rala, aos vinte e três dias; um dos mais longos e entristecidos de dois mil e quatorze, reprisam chorosamente, a morte, seguida de memórias da vida plena e da obra sem fim, de Ariano Suassuna.
Quando me dei conta da perda imensurável do nosso mais autêntico artista das letras conjugadas, para pronunciar com singeleza a nossa “Pátria Amada, Brasil”, já atrás de outros afazeres, perguntei a minha filha sobre o nome do livro que Suassuna concluiu, no tempo certo, depois de mais de trinta anos:
“- É... Jegue Sensual, filha?!?”
- Não mãe!... Murmurou alguma coisa... E não ouvi direito.
- Ah! Já lembrei... É Burro... Charmoso!?!...”
Ainda com uma dúvida cruel sobre o que realmente eu tinha escutado no jornal televisivo, também, chateada pela escapada de memória, não consegui palavrear o que há pouco, eram gargalhaços causados pela similaridade dos títulos atribuídos por nós, ao livro inédito do nosso escritor, lembrei-me animada, que além de ser membro da consagrada Academia Brasileira de Letras, já tinha seu nome escrito, indelevelmente, no coração de cada um de nós, desde os seus dez anos, na Academia da Vida Brasileira.
Caetana, mortificada ri, sem graça, sem rima com a vida a pouco retirada, mesmo outrora prometida e cochichada ao ouvido de Suassuna, anuncia seu passamento desta, para uma, supostamente melhor ainda... Trato feito com o Divino Pai, ao finalizar sua última e grandiosa obra, constituída ao longo de muitos anos, ao balanço de sua preciosa vida, mesmo presumida, nos deixa perplexos, até porque embarcaram nessa, Junqueira, Ubaldo e em especial Rubem Alves, que pensava educação como primeiro princípio para a inclusão social.
Consciente do eterno legado de brasilidade singular, muitíssimo me entristece, a evaporação corpórea de Suassuna, que com um simples “aceno”, exalava um turbilhão de ensinamentos, assim como os gestos de Jesus falavam por si mesmos, em seus trinta e três anos de vida pública, mesmo tempo (de)corrido na escritura de sua auto- biografia; obra-prima que finda, agora, no manuseio criativo de seus longos dedos, entre a “planitude” do papel e a ranhura da caneta, foi sulcando sua obra que foi e será sua vida no cotidiano brasileiro, sob a percepção dos simples.
Ariano Suassuna; poeta, escritor e dramaturgo, flor de cactos que brotou na aridez nordestina, floresceu no coração de cada brasileiro e está plantado para sempre nos anais da cultura nacional, por sua criticidade social, humor e amor sem freio pelas criaturas.
Redescubro meus dotes investigativos...
O livro de Ariano não é “Jegue Sensual”, tampouco “Burro Charmoso”, mas sim, “JUMENTO SEDUTOR”, que já provoca minha alma a cheirá-lo para depois, devagar... Viajar por toda “sua sina” de bem escrever os bens da nossa casa, Brasil.
“... Só sei que foi assim...” - Um grilo cricrizou em mim, a vontade de lamentar, e de certa forma, curtir a dor doída da ausência estendida aos tantos que se foram, assim,... De repente..., sem aviso, rememorando nosso brasileiríssimo Ariano Suassuna.