CARNE VIVA
Surge um rosto
Em meio ao abismo, em meio à escuridão...
Olhos de luz, sombra da fogueira.
Que se faz incandescente
Na labareda do infinito...
Fogo fátuo do desejo!
Respiração...
Se aproxima o rosto...
Semblante iluminado!
Desejo na boca...
Nem um som é emitido,
Só a batida do coração...
Boca de desejo,
Pedindo, querendo...
Boca... O beijo molhado,
Suado, chorado, gritado!
Beijo de ódio, de amor, de paixão...
Línguas que lambem, que sugam
No jogo que arde, que queima, que devora...
Na insanidade sã de uma miragem!
Surge um rosto cristalino...
Sonho de amanhã na noite resplandecente!
Temo não saber quem sou... Depois de tudo, depois do tempo, depois de agora, depois do nada... Nunca se deve falar nunca porque nunca é eterno e nós somos efêmeros... O que é eterno é o que sonhamos, é o que desejamos, é o que amamos nas areias luminosas e angustiantes da ilusão... Temo não saber quem sou depois de tantas que me fiz e que se perderam e que se evaporaram nesse ar melancólico da maresia do mar... Certezas! Não tenho nenhuma... Só sei que estou viva, não porque penso, mas porque sinto com todos os sentidos humanos até a explosão do coração... O que eu sou talvez não tenha nome, não tenha forma, não tenha sentido... Na aurora ou no crepúsculo só existe esse coração que bate desvairadamente e extasiantemente na contemplação despudorada da própria vida que jorra seu brilho, sua voragem na morbidez do que somos e que desejamos mais que a própria realidade e estilhaça a ilusão dos sentidos... Não! Não sei o que sou... Só sei que sonho, que deliro, que enlouqueço na possibilidade máxima e infinita de não principiar nem acabar absolutamente nada porque estou no centro da vida, no nervo pulsante, no meio do tudo como um maremoto que nos arremessa na roda-viva da fascinação que reveste nossa alma no ato singelo, mas vital, de respirar... Não sou nada e creio apenas na força dos sentidos, na força dos sonhos, na força da sedução... É o coração que arrebenta ao olhar e ver toda a potência maravilhosa que o mundo, com suas flores, seus mares, suas naturezas podem oferecer... E só por este instante, ao ver um céu azul e límpido, já vale a pena estar viva... Apesar de toda angústia, de toda dor, de todo o sofrimento... Apesar da vontade louca de fugir e sair correndo pelos labirintos do desconhecido que atravessam nossas almas com seus atalhos bifurcados enfurecidos pelo desejo do instante-já neste momento agora de sentir a miragem de que podemos e do que queremos não sabendo quem somos, de onde viemos e para onde iremos... As palavras me sufocam... Não sei mais o que dizer porque as palavras não são suficientes para expressarem e revelarem a verdade dos sentimentos... E omitimos sem saber, deixando no ar um grito não dado que ecoa dentro de nós mesmos nos afundando no desespero... Enquanto dormimos, como animais assustados com a fera da noite, o tempo corre trazendo a saudade do que um dia foi e hoje não é mais... E nós nascemos, crescemos e morremos... Sem um grito de misericórdia... Nada pode nos salvar, porque tudo que tem um começo tem um fim e nada podemos fazer para evitar, para parar este escultor perverso e cruel que é o tempo... Tudo acaba, tudo é finito, nada tem retorno... O homem, com sua carne, que tanto seduz é tão fulgáz como a batida do coração... Tantas lutas, tantos desesperos, tantas batalhas, tantas quedas para se chegar onde? A qual eternidade? Aos homens só é lícito o sofrimento, pois a dádiva da paixão só é permitida aos Deuses... Nada mais tão cruel como a sedução da Paixão! Nada de razão, nada de pensamento, nada de gráficos cartesianos... Porque a paixão devora e come as entranhas das quais nos revestimos... Amor e paixão, faces da mesma moeda, mas tão distantes como o próprio Deus... A paixão descontrola e sufoca como se estivéssemos nos afogando num abismo do lodo... E encontramos nosso próprio ‘abyssos’ num mergulho sem volta onde nos despedaçamos e nos quedamos tirando as máscaras de falsos heróis que nos vestimos para nos tornar seres humanos em carne viva... O radicalismo é uma doença infecciosa... Mas só na paixão ele é lícito, porque a paixão exige entrega, exige comunhão, exige êxtase, exige loucura... A paixão exige que nos exponhemos e nos mostremos tais como somos num total ato de passionalidade... A paixão nos torna doentiamente possessivos, porque perdemos o controle dos nossos próprios atos... Não sabemos mais onde estamos, o que fazemos, o que sentimos, o que falamos... Necessitamos do corpo, da carne, do sentimento e da própria alma do outro... É o próprio ar que respiramos... Queremos possuir e sermos possuídos por inteiro...
Só queria poder dizer,
Só queria poder gritar
E olhar o fundo do que és,
Para poder te falar...
Agora, mesmo através da finitude,
Porque nenhum amor humano é eterno,
Já que nem o humano é etéreo,
Mas na eternidade deste instante...
Que por mais que te amem,
Eu vou te querer sempre mais,
Até o infinito do mar,
Até o inimaginável brilhar das estrelas...
Porque não te quero objeto
Que se possa saciar sede e fome...
Não! Não te quero assim
Porque de você só exala o amor...
Te levar para conhecer a lua
E te fazer uma morada nas estrelas
Tendo o céu como presente
E a imensidão como ato de Paixão...
Tira o ar! Tira o sossego! Tira o que somos de nós mesmos! Porque não vivemos senão pelo outro, não respiramos senão pelo outro! Nós somos o próprio outro!
É muito difícil se falar de paixão porque só o coração pode senti-la, jamais a razão... E quando se fala de paixão, abrem-se as feridas do peito que se esvai em sangue que percorre e nos corta com a navalha da emoção deixando a carne em carne viva... Nada tão assustador quanto à própria paixão... Quem nunca viveu uma paixão, quem nunca rasgou o peito numa emoção, quem nunca sangrou o coração, este nunca viveu, porque não sabe a dor e a angústia de desejar, de enlouquecer e de transformar a tua vida num espantalho desesperado a mercê de um olhar, de um carinho, de um toque, de uma palavra... E, se for preciso, se rastejar na lama dessa sedução a procura angustiante de saciar a fome e a sede até as raias da humilhação... Se entregar, sem pensar em vulnerabilidade, em amanhãs tão distantes... Não apenas viver um sonho, um delírio de tocar o céu com as mãos e atingir a miragem do horizonte com seu arco-íris e caminhar por ruas e esquinas inimagináveis até alcançar o país chamado Ilusão... Porque por mais louco e inverossímil que pareça, é necessário o sonho, é necessária a miragem para que possamos continuar sobrevivendo nessa desesperança alucinada de acordar todas as manhãs sem saber se vale à pena, sem saber quem somos, sem saber para onde vamos... Se tivéssemos a certeza de que os sonhos nunca se realizariam já estaríamos mortos antes de morrermos, porque se eles não podem se realizar para que sonhar e se perder na ilusão do possível? Sonhar é grátis e é a única coisa que realmente é nossa e que ninguém pode tirar e impedir... É o único instante que nos deparamos cara a cara com o nosso desejo sem precisarmos usar nenhum dominó, sem nenhuma hipocrisia, sem nenhum subterfúgio... Estamos sós, infinitamente sós, com todas as nossas fraquezas, nossos medos, nossas quedas, nossos defeitos, nossas angústias, nossas feridas, nossas absurdidades... Mas tão nós mesmos, que chegamos nos assustar, mas não podemos correr porque o sonho é um momento único e nosso que estamos sós...
É exatamente meia-noite.
Estava preste a me deitar.
Cheguei a afastar os lençóis
E até a tirar os óculos.
Sei que alguma coisa
Que sei o que é
Mas que custo a admitir
Me perturba, me tira sono.
Meia-noite!
Penso em você!
Não sei porque e,
Sinceramente, não quero saber...
Mas me dói demais!
Encolhi todos os sentimentos
E hoje pouco me importa
O que importa o que se sente!
Alguma coisa sei que é
Senão não pensaria
Mas não sei que é,
Talvez apenas ilusão...
Nunca fiz o que pensava
Porque nunca encontrei paixão...
Apenas um tesão...
E tesão dá e passa, mas às vezes mata!
Não sou de fazer amor!
Infelizmente, é o normal!
Talvez, só faça paixão...
Um milagre!
Sim! Não se deve fechar
A porta para o maior
Milagre do mundo!
O amor!
Talvez seja um jogo,
Um jogo perigoso!...
Mas estou fascinada
Pela perda total do controle...
Porque preciso...
Diga que me quer!
Diga que me deseja!
E eu te possuo!
Mente, se for necessário...
Eu aceito...
Mas me deseje...
Eu preciso da sua aceitação...
Meia-noite!
Madrugada...
Penso em você...
Por favor, pensa em mim!
A realidade é tão perversa que vive cortando constantemente porque, justamente, vive em desacordo com o que sonhamos e com o que desejamos... A realidade é travestida de razão que faz com que os homens vivam em sintonia com a maledicência comportamental social... Quem criou a realidade? Quem disse que a realidade é para ser seguida por todos como se cada um de nós fôssemos iguais a todos numa massa de marionetes ambulantes e robotizantes? Onde estão os sentimentos? Onde estão as emoções? Onde ficam as sensações e os sentidos humanos? Não! Indubitavelmente não! A realidade não me pertence porque prega a razão, prega a verdade, prega o esquema e a regra... A minha roupa é a emoção! Dos pés à cabeça eu me visto de passionalidade que me faz viver cada instante como se fosse o único e o último... Me entrego de cabeça a alucinação de viver a emoção loucamente linda de um instante como a chama de uma vela que queima as entranhas do ser... Olho em volta e estou só cercada apenas pelos meus próprios sentimentos que vagueiam a procura da paixão... Não vou nem venho... Permaneço olhando e vendo a beleza que percorre o canto dos pássaros, as estrelas da noite, o brilho do sol, as ondas do mar e o nascer das flores... Sinto o cheiro do orvalho e o gosto do capim molhado que crescem no coração... É um silêncio sem fim que penetra na alma gritando e sangrando pelo corpo da pele... Como um tocar de pele, um carinho que vai percorrendo aos poucos cada reentrância de outra pele... Arrepio... Como um segurar de mãos que passam pelos cabelos e pousam no peito... Escutando a batida do coração... Como um abraçar forte e seguro dentro do próprio vazio da vida e da solidão que nos cerca... Um beijo... Um beijo na boca querendo descobrir a própria alma e se proteger da própria vida num delírio frenético de se sentir em casa... Solidão que grita mais do que deve no abismo de desejar o próprio desejo sem a mínima possibilidade de obter o desejo... E o desespero chega junto com a angústia sem que nada possamos fazer...
Nós idealizamos tanto a pessoa amada, criamos tanta expectativa que acabamos por nos decepcionar... E quando nos decepcionamos, a sensação que sentimos é que o mundo desabou aos nossos pés e isso dói! Dói tanto que o coração se parte e se estilhaça pelo chão...
Uma dor aflige o meu peito!
Essa dor cruel que massacra a ilusão!
Essa dor que move a combustão
Do movimento acelerado do pensamento...
A crueldade consiste justamente
Em saber a palavra, mas perder o gesto
Tão intimamente próximo do momento...
E o pássaro voa sempre...
Quisera poder falar,
Quisera poder pronunciar
A palavra maldita,
O som da sedução...
Dói no peito
Que arrebenta a pulsação
E a veia explode no tesão
Do feito apenas imaginado...
E as mãos tomam vida
Que no delírio percorrem o corpo...
No sussurro do mar...
Uma onda vem... Uma onda vai...
Prazer é o cheiro do mundo!
Sedução, sonho, alucinação...
A sereia canta ao longe
A melodia que não se deve ouvir...
Quero, quero muito,
Quero tanto, que chega a doer,
A doer fisicamente
Lá onde só ousa a imaginação...
Que dor! Perversamente sentida
E sentida por toda a eternidade...
É só uma onda
De um sonho que não vem do sono...
Viver dói demais porque viver plenamente exige uma entrega, exige que mergulhemos de cabeça e de peito aberto percorrendo todos os espinhos e todos os atalhos perigosos que a estrada oferece... É necessário que se vá ao fundo do poço, ao abismo do vazio e nos sujemos completamente com o lodo e com a lama... Só assim poderemos renascer das cinzas e saber o que é o brilho, o que é o sol que queima as entranhas, o que é viver a própria vida na sua plenitude ardilosa cheia de armadilhas... Com passionalidade, como emocionabilidade, com um imenso tesão que chega a doer de tanto êxtase jorrando pelos poros da pele e da carne...
Não saber para onde ir... Porque não se anda, mas se flutua e se voa para onde os ventos nos levam... Apenas com o coração batendo e respirando a emoção de se ir pelas miragens do infinito sem nenhuma máscara, sem nenhum dominó, sem nenhuma sociabilidade... Grunhir como animal que apenas vive do instinto, sem conhecer regras concretas que massacram e fazem com que morramos a cada dia sem a esperança de podermos mudar alguma coisa... Ter a cabeça nas estrelas e sonhar com o amor humano, com a solidariedade e a cumplicidade de sentir o cheiro que exala uma flor na sua candura e na sua delicadeza... Olhar a chuva cair e sentir o arrepio percorrer o corpo com os pingos cintilantes que molham a alma... Sentir o orvalho e o capim molhado na relva onde deitamos e sonhamos com um mundo cristalino potencialmente humanizado pela sedução do sentir...
Deus! Não sei se existe! Gostaria, de todo coração de acreditar em Deus! Mas não tenho certeza! Não tenho certeza de nada... Minha única certeza é a incerteza e só sei que estou viva porque, por mais que não queira, sinto! E sinto mais do que posso agüentar... Pouco me importa o sofrimento e as decepções... O que quero é nunca deixar de sentir a vida jorrando feito uma cascata por toda a parte do meu corpo, por cada pedaço de mim que se dividem e se espalham por todas as regiões, lugares e mundo por onde já percorri e também por onde meus sonhos alcançaram... Cada pedaço de mim é um todo e cada pedaço de mim tem vida própria porque desejam a loucura impensada e ilimitada do infinito que toca a eternidade... Muitos caminhos foram percorridos e muitos ainda serão... A queda do herói, numa vertigem perversa, já ocorreu... Sou humano, extremamente e totalmente humano... De coração aberto que se estilhaçou em algum abismo da descoberta... Em troca da metamorfose sofrida e angustiante de saber que somos todos nós, absurdos... Porque, por mais que o Homem se considere o tal, o todo-poderoso, com suas descobertas, avanços e tecnologias, não temos controle sobre nada... Somos tão pequenos que cabemos na palma da mão... Não temos controle sobre a natureza, não temos controle sobre a carne, não temos controle sobre os sonhos, não temos controle sobre a vida, não temos controle sobre a morte... Não temos controle sobre nós mesmos... Não sabemos mais do que agora! E, no entanto, dá-se valor a tanta coisa que chega a feder... Essa falsa burguesia, hipócrita sociedade que prega tanta coisa em nome de uma Verdade podre e inexistente!... Nomes, sobrenomes, dinheiro, status etc., que não levam a nada, apenas a maledicência e ao preconceito humano... De que me serve um sobrenome? De que me serve uma vida burguesa bem comportada, mas que não tem nada a ver comigo e com a minha realidade? Que a burguesia social se recolha ao lixo de onde nunca deveria ter saído! Porque é isso que ela é, com toda a sua verdade: um lixo que fede insuportavelmente cheio de razões, de certezas, de esquemas e falsas morais! Eu sou a favor da amoralidade e levanto a bandeira da emoção, desprovida de toda a verdade social de uma cultura decadente! Redemunho meus pés no sonho e na sedução da liberdade! Sou anarquista de coração, onde o ser humano vale por ser apenas um ser humano cheio de falhas, erros e inverdades, que sente, ri e chora pelo fim da humanidade, com suas faces poliédricas que aos poucos vão revelando a essência do que são! Eu levanto o mastro da sedução! Porque só nela a possibilidade existe, só nela é lícito o jogo implícito da paixão que se queda e beija os pés da ilusão... Numa girândola de dor e de delírio, num vendaval constante de dilaceramento, num lupanar da alma que entra em choque com a realidade distante e perversa que mata o homem humano com seus sonhos e esperanças e idealismos... São os sentidos que me regem numa orquestra magistral de êxtase onde as vozes se calam para escutarem o canto dos pássaros e a batida dos corações... Sair de mim e ir com as ondas do mar até o fundo do oceano, descobrindo novas vidas, novos horizontes, novos infinitos... Num ato de desespero que move os homens a cometerem o crime... O crime de serem e de estarem de acordo com aquilo que são: santos e demônios que se comungam numa orgia desvairada e despudorada da animalidade da fascinação de se entregarem nessa missa onde Deus e o Diabo se beijam na boca e fazem amor na cama do desejo inundando a vida e a morte com seus gozos ardentes que queimam a carne na crença do amor...
A pergunta não é o que quero ser
Mas sim, o que desejo...
E isto não é tão simples
Porque implica doações...
O que eu desejo
É simplesmente poder voar
No céu mais ilimitado
E no coração mais limitado...
O que eu desejo
É mergulhar em rios profundos,
É encontrar o abismo
De não saber mais quem é...
O que eu desejo
É fazer amor com a vida
Em todos os estágios
Num orgasmo infinito...
Poder confundir minha vida
Com o fascínio da Arte
Arreganhadamente, escancaradamente...
Me transformar na própria possibilidade...
Abrir a boca e gritar
A liberdade de viver
De todas a maneiras,
Com todos os seus cortes...
Viver até o infinito
De mim mesma
E desmascarar minhas máscaras...
Me tornar carne viva...
Só o coração...
Só deixar o coração bater
Mediante o sinal
Da loucura de me tornar louca...
Sim! A loucura é fascinante
Porque nos expõe e
Nos compõe no compasso frenético
Da luta entre o bem e o mal...
Ser criatura e criador
Na obra total e final
Da vida alucinante
Da girândola da paixão...
Sentir paixão sem restrição
E me esfregar nas paredes
Até sangrar e arrebentar
No vendaval de ser...
Me entregar nas ondas
Do mar, do sol e da lua
Na satisfação plena
Da minha partenogênese...
Não o que eu sou
Porque não sei o que sou...
Só sei o que desejo
Porque sou meu próprio sonho...
E que não me venham falar de convenções realísticas que se pregam por aí! E que não me venham dizer aonde devo ir! E que não me mostrem caminhos a seguir! E que não me dêem exemplos! E que não me falem de Verdades! Eu não creio em absolutamente nada! O que me guia é a emoção, a sedução de estar viva agora neste momento sentindo a respiração embaçar em um vidro qualquer situado no centro do coração! Deus e o Diabo, igualitariamente, é que traçam as linhas do meu destino numa luta diária entre o Bem e o Mal que não existem, senão fora de mim... Que se calem todas as vozes, que se ceguem todos os olhares! Silêncio! É necessário o silêncio para se escutar o eco da imensidão... A imensidão da eternidade que nos banha na metamorfose de nos modificarmos todos os dias e todas as horas na mesma intensidade que uma pulsação da veia que estanca nas águas do mar...
É preciso que se quebre, que se estraçalhe, que se estilhace e que se espalhe... É preciso que conheçamos cada fraqueza, cada desejo, cada pedaço de carne que compõe o que somos, o que não somos... O que desejaríamos ser... Porque é só a partir deste momento é que teremos possibilidade de tocar na eternidade, porque todos os dominós já terão sido arrancados e já teremos vestido todas as fantasias para todas as festas que somos obrigados a participar dançando todas as músicas com todos os pares em todos os ritmos com todas as angústias escondidas nas máscaras coladas às caras que experimentaram todos os gostos de todas as lágrimas por todos os desejos não realizados nos sentimentos de todas as emoções por todas as seduções não reveladas... E o que ficou por dizer revela mais do que todas as palavras que foram ditas, já que as palavras só revelam o que queremos revelar e as palavras não ditas revelam os desejos, os segredos, os sonhos e tudo aquilo que, na verdade, gostaríamos... É necessário sensibilidade para se perceber as entrelinhas, as metáforas, s jogos insinuantes das palavras... É preciso ter o coração aberto para se poder receber à vida que entra como um sopro, como um maremoto derrubando todas as consciências da razão... É preciso estar a postos para acompanhar a tempestade e não se quedar nos ventos... Não é lícito se ir contra a maré, porque o que tiver de ser, certamente será, já que do destino nenhum humano escapará, por mais perverso que seja... As portas estão abertas e que o destino às arrombe, mesmo que a desilusão seja mais forte que o desejo...
O ser humano é lindo e ser humano é mais lindo ainda! As suas múltiplas facetas que se adaptam as tempestades e que fingem os sentimentos que não sentem... Todas as suas marcas que revelam o quanto caminharam e o quanto quedaram tentando ultrapassar as barreiras, às vezes intransponíveis da própria vida que nos obriga a sempre agir, a tomar atitudes que não têm retorno... Nada volta, nem um suspiro... O futuro ninguém conhece... Todas as suas fraquezas são lindas! Uma lágrima significa mais que a palavra porque expõe o coração... E a nudez revela o Homem sem as vestes da mentira... Eu não procuro a perfeição porque não creio em perfeição. Eu não procuro um rosto, um corpo belo porque a beleza é efêmera e não me revela absolutamente nada do que é ser humano... O que procuro é o humano dentro de cada um... O que procuro são marcas são cicatrizes, são erros, são falhas, são fraquezas, são sofrimentos... Porque só aquele que sofreu sabe o que é ser humano, o que é rasgar o peito no instante-já, no momento sublime de uma emoção... Chega de virtudes! Chega de perfeições! Chega de tudo o que prega o social! Chega de razões pensadas mil e uma vezes, porque só a emoção e a sedução dessa emoção são lícitas!
É necessário que haja Paixão e que mergulhemos até o fundo na crença dessa paixão, para que possamos nos sentir vivos e potentes no ato perverso de viver! E viver dói! Dói demais! Mas temos que ter a coragem de cometer este crime num ato de misericórdia para nós mesmos! Temos que ter a coragem de acreditar no que somos e na força do que somos... Temos que prosseguir sempre e mais, mesmo que se caia, mesmo que se corte... Temos que lutar pela liberdade de sentir até as raias do delírio de sonhar os nossos sonhos e lutar pelo ideal que move a nossa vida... Temos que persistir e reacender a cada dia a chama da esperança de que vai ser possível... Gritar em nome do amor, em nome da humanidade num raio de luz que ilumina a estrada da vida! Levantar a bandeira da Paixão e o mastro da emoção e o cetro da ilusão... Temos que lutar pelo que somos e pelo que desejamos... Temos que lutar pelo que é nosso mesmo que seja uma loucura, porque é preciso ser louco e é lindo ser louco!
Nós não somos nada e a nossa absurdidade angustia o coração, justamente porque sabemos que a morte é tão concreta quanto à vida... Nós lutamos tanto para conseguir apenas sobreviver, suamos tanto para conseguir alcançar um lugar ao sol e persistimos tanto para ver uma luz no fim do túnel! E para que? Se a respiração pode faltar a qualquer momento, se o coração pode parar a qualquer instante? Nisso consiste toda a absurdidade humana, essa falta de sentido que rege a nossa vida... E tanta gente com tanta pose, com tantas verdades, com tantos nojos! Não há sentido em nada porque tudo um dia se acaba, até o próprio Homem... O que fica são os sonhos sonhados, a esperança e o ideal de um mundo melhor e mais humano, onde os homens se olhem nos olhos, se dêem às mãos e se chamem de irmãos... Um mundo feito de estrelas que brilham sempre no céu, mesmo depois de um dia chuvoso... Um mundo de sol que surge depois de cada noite... Um mundo de flores que exalam os seus perfumes... Um mundo de pássaros cantando um hino harmonioso... Um mundo de humanidade e de liberdade, onde as verdades não sejam impostas pela razão... Mas um mundo de liberdade de voar por todas as terras, por todos os corações, por todas as emoções, por todas as vidas humanas repletas de compreensão, de solidariedade, de humanidade... Um mundo de homens livres, que possam expressar da maneira que quiserem, sem receios de serem apontados como loucos ou como marginais ou como páreas sociais... Um mundo onde todos cantem a canção d amor, a canção do amigo, a canção do coração... E eu creio neste possível, porque acima de tudo e acima de todos e acima de todas as conseqüências eu acredito no homem, eu acredito na humanidade humana, eu acredito na vida com todas as suas perversidades e dores... Eu sou apaixonada pela vida... O ato de viver me fascina e me seduz... Viver me deixa em êxtase por mais que doa, por mais que machuque... Viver é um ato de coragem em todos os sentidos do sentimento e também um ato de liberdade e desafio contra a própria vida... Porque exige entrega, exige paixão radicalmente vinda do delírio... Viver não tem meio termo... Viver é um ato radical assim como a paixão... A paixão é a própria vida que não pede licença para a orgia do estupro... Porque ela nos abre e nos arreganha e penetra nas entranhas e arranca as tripas que se prendem ao coração! Só aí a radicalidade é lícita, porque para se viver é preciso muita paixão, muita fé, muita esperança, muito abrir de peito e muito sangramento no ato mais profundo da vida humana!
Fico imaginando como seria te beijar na boca... Não sei porque esta obsessão está tão presente nos meus devaneios... Mas o desejo é tão intenso que não consigo parar de pensar em como seria te beijar na boca... Primeiro fecharia seus olhos para que você pudesse sonhar... Não quero saber com o que, porque os sonhos só pertencem a nós e ninguém tem o direito de saber... Depois te acariciaria a face na tentativa de sentir sua pele e fazer com que você sentisse a minha... Te abraçaria, um abraço bem apertado para que eu pudesse ter a certeza de que não estava só e para que você soubesse o que é ter carinho por alguém... Encostaria, num primeiro momento, meus lábios aos seus, vasculhando, com suavidade, toda a sua boca... Te estreitaria mais em meus braços e te beijaria mais profundamente para que pudesse descobrir, afinal, quem é você... Minha língua penetraria na sua boca e minha boca mataria a sede na tua saliva... E você saberia quem sou... Te colocaria no colo e te faria dormir sonhando que as estrelas são possíveis de serem tocadas, porque existe carinho, existe lealdade, existe amor... Minhas mãos passariam pelo teu corpo, vasculhando cada fraqueza sua... Conhecendo cada veia, cada artéria, cada arrepio, cada parte escondida e contida da sua carne... Beijar sua boca infinitamente e eternamente só para saber o gosto do mel que derrete o olhar... E que a chama se acendesse aos poucos fazendo com que você me descobrisse e me desejasse, não pelo prazer, mas pela necessidade que só o amor é capaz de fornecer... Fazer com que você sinta falta de mim, assim como eu de você... Que você queira saber onde estou, o que faço, com quem ando, o que penso e o que sinto quando a distância se interpõe ao tempo...
Porque sou um oceano de águas profundas esperando de braços abertos que desagüem em mim... Sou sempre um convite porque estou aberta às águas que me inundam... Tudo é possível no sonho, até a loucura mais louca e até o desejo mais contido... Meu oceano é de águas profundas e quem mergulhar nele saberá que no espaço entre o céu e a terra as máscaras, por um momento, podem ser arrancadas e que viver em êxtase um delírio qualquer é possível, porque sou o sonho, sou a loucura, sou o desejo mais profundo de cada um e que comigo todo jogo é verdadeiro, todo jogo é possível, toda fantasia é lícita, toda a loucura é permitida sem meios-termos, sem pudores, sem vergonhas... Quem vier comigo vai ter que mergulhar fundo nessa onda da miragem, nessa fantasia louca de viver o êxtase, nessa viagem ao fundo do poço onde saberemos que a verdade não passa meramente de um conceito e que o certo e o errado dependem de cada um de nós e o que é importante é que nos atos que cometemos haja sinceridade haja respeito e haja amor... O resto é meramente uma convenção tão velha quanto o próprio tempo... Porque, acima de tudo, é necessário que lutemos e tentemos ser felizes... É necessário que lutemos por aquilo que acreditamos e nos agarremos com unhas e dentes na fé de existir como seres humanos com direito a sermos felizes, a termos um lugar ao sol, um espaço para crescer e sentir que ao homem de vontade forte tudo é possível...
Eu estou em carne viva, me expondo à vida e não me arrependo deste ato... Porque este ato é o meu desafio, é o meu grito de revolta que ecoa no meu coração... Não posso permanecer calada perante a injustiça que os homens cometem contra os próprios homens, tornando-os tão infelizes a ponto de pregarem o fim da emoção... Eu me coloco em carne viva já que a cada batida do coração fui esfaqueada e massacrada pela desilusão... Mas por mais que me digam não, eu sempre vou dizer sim... Por mais que a vida diga não, eu vou gritar que sim e me agarrar como uma alucinada à esperança do sentimento e do sonho, porque não sei viver sem paixão, não sei viver sem coração, não sei viver sem sentidos, não sei viver sem ilusão...
Minha vida é um palco de chegadas e despedidas, uma estação de fantasia, uma esquina de ilusões, uma girândola de emoções que se misturam num liquidificador do coração criando o filtro da sedução e da fascinação de sentir o sangue correr nas veias no turbilhão dos sentimentos...
Nada de novo no front... Nenhuma luz... Nenhuma perspectiva para amanhã... Nenhum sentido que desperte o olhar da manhã... É tudo tão absurdo e desprovido de nexo que, às vezes, nos questionamos se vale a pena... Sinceramente, não sei... Durmo todas as noites com todos os sonhos do mundo, na esperança que aconteça algo de novo, que mude radicalmente alguma coisa que vire minha vida de pernas para o ar... (Mas quem não quer isto? Só que todos têm medo do risco que, inevitavelmente terão que correr!)... Que aconteça algo que me dê um sentido, que me faça viver, que me faça acreditar que vale a pena prosseguir e lutar... De que me vale viver e lutar por mim apenas? É o que me pergunto! Eu creio na emoção e na paixão e não consigo conceber vida sem esses sentimentos! Eu preciso desesperadamente de alguma coisa ou de alguém que me faça ter forças e vontade de lutar e de viver e para que eu possa dizer “estou vivendo e lutando por você, porque acredito em você, porque amo você, e não posso perder e viver sem você!” E todas as manhãs, quando desperto, vejo que todos os sonhos foram em vão, que nada se modificou e nenhum sentido arrombou minha alma... Que minha vida continua uma ilha, um imenso deserto de tártaros, cercada por todos os lados de uma infinita solidão, sem um amor, sem uma paixão que acenda a labareda da esperança...
Mas o que dói nesta história toda, é que por mais funda que a solidão se faça presente e que o desespero se junte a ela, existe uma força dentro de mim que teima no idealismo, no romantismo, na esperança de acreditar na vida... Lutar pela chegada do amor, apesar de toda a fragilidade, de toda a carência em que se encontra... Poder dizer, de peito aberto Eu Te Amo, com todas as suas letras, com todos os seus significados, com todo o coração sem o potente medo da vulnerabilidade... E por esse amor ser capaz de ultrapassar todas as barreiras, de caminhar pelo inferno, de tocar o céu com as mãos e atingir a miragem do infinito... De lutar contra tudo e contra todos, contra todas as razões, contra todos os sociais, contra todos os burgueses e todas as convenções que entendem o amor como uma hipotenusa ao quadrado na sua razão matemática de uma equação binômia de um enredo convencional em memória ao grande Pitágoras...
Hoje, agora, neste momento, estou carente... Nunca estive tão carente e vulnerável como estou hoje... Desesperada, alucinada, desvairada... Se alguém me toca, mesmo que seja sem querer, mesmo que seja inconsciente, mesmo que seja apenas para me mostrar alguma coisa, eu me arrepio toda; me dá um frio no peito que parece que vou desfalecer...
Estou chegando – e acho que já ultrapassei – o meu limite máximo... É uma sensação estranha de impotência e de frieza porque sei que não sou nada... Que não consigo abrir os braços, que não consigo chamar, que não consigo me dar... A realidade me castra e não me deixa tomar a decisão de pedir para receber... Tenho pavor da rejeição porque sou completamente insegura do poder da minha sedução... Tenho medo de receber um não e ficar sofrendo muito mais do que já sofri... Mas a questão não é a timidez, mas sim, um embaraço emocional que me faz estacar quando sou tocada... Que me faz não conseguir retribuir e parecer tão fria e distante... Mas é que tenho medo de mim mesma, da força desesperada da minha carência e assustar de vez o carinho do outro... Minha sede é tão grande que nem toda a água do mar seria capaz de sacia-la... Minha fome é tão infinita que nem toda a comida do mundo seria capaz de mata-la... Meu desejo é tão intenso, que nem toda a carne humana seria capaz de acalma-lo...
Na verdade, eu só existo dentro dos meus sonhos, dentro de mim mesma, onde sou um vulcão em erupção... A realidade não me pertence, não fui eu quem a criou ou com o que sinto... Porque a realidade não permite que o Homem sonhe, que o Homem viva de acordo com seus ideais, com seus desejos, com suas crenças e com suas esperanças... Dentro de mim faço o mundo, toco as estrelas e vôo como os pássaros cantando o hino da liberdade e espalhando amor pela humanidade... Dentro de mim o que há são rosas, que exalam o perfume da emoção e do êxtase de se dar... Dentro de mim é o rio que fica, é a montanha que escala, é a cachoeira com sua cascata que transborda a fascinação de viver!...
Quanto me pesa a emoção
Que me envolve cada vez mais...
Não ser dali, não ser daqui...
Ir por ali e não por aqui...
O tempo leva consigo
O coração que me foge da alma
E me sai pela boca
E me rasga as entranhas...
O sol me cega os olhos
Com sua razão,
Com sua claridade,
Com sua não loucura...
Mas a noite vem
E a lua chega
Na certeza da incerteza
Do sentimento do sentir...
A febre me queima
E me faz delirar...
Loucura louca de ser louca
Da loucura lindamente louca...
A razão que me perdoe!
Quero sentir o sentimento
Para sentir o tudo do sentir,
Para sentir o meu sentir...
A loucura me faz minha!
Quero ser completamente louca
E viver insanamente minha loucura...
A loucura dos vendavais da alma...
Todos querem ser absolutos em tudo; campeões em tudo. Querem ser absolutos na verdade, na Beleza, no Mundo, nas sabedorias...
Não há nada absoluto em nada! Não me digam e não me falem que existe absoluto. É mentira! Nem a paixão é absoluta, nem nenhum homem, apesar de complexo, é absoluto...
Cada um sendo o que é sem ser absoluto!
Não me olhem assustados por não valorizar o humano dizendo que não é absoluto! Isso não é nenhuma verdade, porque a minha verdade também não é absoluta!
Mas o homem não é nada! Não é campeão em nada, absoluto em nada... Nem na verdade nem na carne nem na paixão... O que há são momentos de cada uma dessas coisas!
Nem as máscaras são absolutas...
Mas o homem vive seus dominós com êxtase profundo, como querendo se devassar, estilhaçar a essência da carne, embriagar-se dionisiacamente...
Todas as máscaras que nós, atores sociais, encenamos no palco da vida, são reais a ponto de existirmos que não é real...
Mas as personas vivem tão em nós, que não sabemos viver sem elas...
Grudam à cara, eliminam a emoção, matam o coração...
Mas cada máscara é uma vida no presente que se transforma a cada instante em que é morta para ser substituída por outra...
A ribalta nos aguarda; o teatro está de fantoches mascarados; o sangue é derramado em toda a veia que pulsa no ventre de ser rasgado e massacrado pelo teatro fatal e vital da vida...
A cada máscara vivida é uma página virada que sangra o coração... Não há absoluto na vida, porque nenhuma máscara é absoluta, é insubstituível. Todas elas nascem, personalizam o homem e fenecem para, outra vez, renascerem num outro dominó qualquer...
Meu corpo chama você...
No delírio da febre,
No delírio do desejo
É você que eu chamo...
Lá fora, ouço a voz da cascata
Rolando nas pedras,
Machucando suas águas...
Eu grito você...
A febre vai aumentando
E o desejo me sufocando...
O tempo – esse carcereiro da vida –
Vai me roubando você...
No delírio da febre
Vejo meu rosto na janela...
Teus olhos me olham;
Tua boca me pede um beijo...
Meu Deus! Que calor!
Preciso de água!
A tua saliva está lá,
Atrás da janela...
Vem matar a minha sede
E saciar meu desejo...
Vem! Vem comigo se queimar...
Grito seu nome, em vão!
O horizonte é tão distante!
Meus braços não conseguem alcançar...
Mas lá está você... Você...
A espera de um abraço meu...
Estou ficando louca!
Já não sei mais o que faço
E nem mais o que falo,
Já que só sei chamar você...
Ah! Se a terra me engolisse,
Se o mundo explodisse,
Se o inferno se materializasse,
Se o homem me matasse!...
Mesmo assim, nunca, em tempo algum,
Minha voz se calaria
E a febre diminuiria
E o desejo se aplacaria...
A minha voz ecoaria
Seu nome aos quatro ventos,
Seja ontem, hoje ou amanhã!
O teu nome sobreviveria...
Essa alucinação me mata,
Aos poucos, a cada dia...
Já não tenho voz, já não tenho você...
Meu corpo chama teu corpo...
E seu nome me consome...
Minha carne se dilacera...
Estou louca! A emoção me governa...
O teu nome me alucina!
Meu corpo chama você...
No delírio da febre,
No delírio do desejo...
Vem... Que eu sempre te espero...
Paixão, caminhos, percursos a serem atravessados no momento indevassável do coração humano... Vidas que se cruzam e sentimentos que se comungam em um instante qualquer como um empurrão dado sem querer... Uma estação de trem, com chegadas e partidas e choros e sorrisos e tristezas e alegrias e dores e prazeres... Rostos anônimos que se perdem e se acham na roda gigante do Universo do dia e da noite, do sol e da chuva... Opostos que se atraem na Igreja e no prostíbulo, onde santos e pecadores se intercalam e se devassam no tudo do nada... Uma lágrima que escorre, uma mão que se ergue e um coração que bate... Padres e putas copulam na missa profana do amor... Uma vida que é agora, sem papel carbono, sem cópias, sem depois... Veias, artérias, entranhas, tripas, escarro, suor, amor, carinho, ternura... Côncavo e convexo que se encaixam e se afastam e se unem... A procura do buscador... Incessante, uníssona e múltipla... Ser um viajante de si mesmo e do outro... Finito! Tudo finito! Mas eterno porque verdadeiro... Inocentemente verdadeiro... Vivido a cada instante com intensidade, de coração aberto e na fé de crer que o retirar das máscaras sempre valerá a pena...
Vivi o instante-já sempre com o coração aberto e ergo um brinde a mim mesma por ter sido sempre capaz de acreditar nesse instante... Na essência e na alma sempre! A coragem sempre me moveu na escalada dessa montanha, a coragem da confiança, a coragem da cumplicidade... Tornei-me herói de mim mesma porque me enxerguei tal como sou no espelho... Arranquei meus dominós e vivi minhas poliédricas faces, uma a uma sem pudor! Fui eu a cada momento, na dor e no prazer, na tristeza e na alegria, na chegada e na despedida. Fui minha própria estação, meu próprio trem e é nele que hoje habito, percorrendo todos os infinitos de mim mesma. O trem humano da vida e da morte que me compõem...
“Não sei dar meu corpo sem dar minha alma!”.