UMA SAUDADE
Uma grota, no alto de uma serra. Árvores por todos os lados, assim como água fresquinha. Mistérios? Aventuras? Descanso? Se houvesse resposta, desapareceria o encanto? Lendas, causos, passeios. Ah, sobretudo os passeios.
O Parque da Mãe D’água povoava os sonhos de toda criança. Sinônimo de piqueniques, de corridas de pega-pega por entre as árvores, de beber da água fresquinha que jorrava incessantemente ao longo do caminho. Nem mesmo o medo das pedradas do Marcelino tirava o deleite que antecedia as visitas àquele lugar mágico. Este prazer permanecia durante a estadia e se perpetuava até as vésperas do próximo encontro.
Sim. Era um encontro. Com a magia. Com a aventura. Com a paz. Com a solidão, ainda que estivéssemos cercados de colegas. Com as brincadeiras, mesmo que ousássemos ir desacompanhados. As copas frondosas das árvores, os barulhos inusitados oriundos da mata... e o novo. As correrias pelo gramado, pelas trilhas por entre as árvores... e o novo. Os jogos de futebol, os pés molhados nas bicas... e o novo.
Sempre o novo de novo. Isso tornava cada visita uma descoberta. Nunca se extinguiam as novidades, os novos sentimentos, ainda que já conhecêssemos o ambiente. Aquela magia nunca se dissipava, assim como o orgulho de falar de um local tão acolhedor, tão diferente, em plena cidade. E, acima de tudo, tão meu, tão seu, tão nosso!
O bucolismo de ver pessoas buscando água de suas bicas, de passar pelo trajeto a caminho do gramado com os olhos voltados para o alto, observando as copas das árvores como se buscassem a Deus, tudo isso nos remonta à nossa infância, ao nosso passado, ao nosso prazer de sabermo-nos tão irmanados pelo sentimento de posse deste lugar único. Inigualável.
O Parque da Mãe D’água é a porção mais leve, mais suave de nossa memória, nem tão recente, no entanto nem tão distante. Porque continua lá. Encravado na mesma grota, altaneiro, imponente. Majestoso. E porque continua aqui, aí. No meu, no seu, no nosso coração.
Pabinha – junho/14