Seda, panos puídos e outras estórias
A trama dos meus instintos é matéria viva, linha sem fronteira.
Já vi essa cena antes, meu amor. Esses seus encontros furtivos, sua ânsia de arrancar qualquer vestido e jogar iscas de cores a quem melhor se servir. Já sei que quando o zíper emperra você procura roupas descartáveis. No meu guarda-roupa não vai encontrar e, por favor 'baby', não coloque trapos junto com meus vestidos de seda pura. Também não adianta se enfiar dentro do armário e querer me ver vestida de solidão para meu sonho tornar-se menor.
Vou além desse ponto de bordado cosido com fios vagabundos. Desse paninho roto, dessa rede de engodo para peixes pequenos. Estou além da lojinha da esquina com suas peças empoeiradas e puídas. Estou além dos rendados de fundo de quintal com bordadeiras clandestinas vendendo a troco de moedas ilusórias e sem lastro. Estou além dos fios da covardia e não estou para compras.
Tenho usado o brilho do lamê e do caos com um certo paetê trágico amarrado a esse fitilho de drama. Espargi um pouco de violência interna e vodka para marcar a minha passagem e deixar nesse pano a minha marca. Lamento, mas não encontrará outro tecido igual.
E, enquanto tecia, me distraí e deixei alguns rasgos. Consertei com fios que tinha esquecido dentro da caixa de pandora e, me parece, eram feitos de amor. Ficou um efeito bonito, mas logo se vê que nada cerzido tende a durar.
Porém, hoje é dia de usar linhas de esquecer e prefiro andar nua mesmo.