" UM POEMA"

Um poema deve ser tal uma casa de família

ter a porta aberta para quem quiser entrar:

"_ Ô de casa! " ( E já vai entrando),

como uma comadre, sem cerimônia.

Não se intimida na cancela,

Não perde tempo com aldrava.

Quando entra, já colheu mudas do jardim.

Dão boas vindas as fotos perdulárias,

os santos, os martírios à flor da pele,

as toalhinhas de crochê, tesouros de família

juntados pelas avós, o piano desafinado,

o Deus-Menino, peladinho

a brincar com Santo-Antônio,

O vaso brega de margaridas,

Coisas que têm história

e falam de aconchego.

A janela aberta para a selva incerta

deixa entrar os anjos que remexem gavetas,

comem doces dos armários,

e nos banham de sonhos.

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