Meu momento depressivo. (ainda bem que passa)

Cansei. Cansei de ser mulher, ser mãe, ser filha. Cansei de ser avó, ser tia, sobrinha, neta, amiga, inimiga, colega, companheira, vizinha, conhecida, amante. Cansei do sol, do amanhecer, da lua, do anoitecer, das estrelas, do horizonte, das paisagens, dos pássaros e dos animais. Cansei da chuva mansa, da tempestade, dos ventos, da brisa, da terra nos pés, do sol nos meus olhos. Cansei de ter medo, ansiedade, insegurança, solidão sozinha e acompanhada. Cansei de fingir, atuar, colocar mascaras. “Começa o espetáculo, o dia chegou, abrem-se as cortinas.” Cansei de andar nas ruas e ver rostos sorridentes e rostos fechados. “Vende-se alegria instantânea.” Cansei do facebook, celular, email, sms, whatsApp. “Tenho dois mil amigos.” Cansei da falsidade, da liberdade gradeada, da democracia capitalista, da globalização. Cansei de votar. “Vende-se um voto.” Cansei das rezas, das crenças, dos deuses, do invisível. Cansei de ver tristezas, hospitais, choro, dor, morte. Cansei das injustiças. Cansei do cansaço. Cansei da procura. “Cadê a luz do fim do túnel?” Cansei de procurar a paz. Cansei de ser gente. Quero morrer, desaparecer, virar fumaça e me juntar a alguma nuvem solitária, me transformar em chuva e molhar um pedacinho de chão seco e carente onde ainda haja uma criança com esperança.

Edamaria
Enviado por Edamaria em 23/07/2014
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