O menino das areias
Tributo à Antoine de Saint-Exupèry
(em 31 de julho: 70 anos de seu desaparecimento no
Mediterrâneo)
Elas te trouxeram do invisível em suas luzes,
para iluminar nosso império.
Abriste a casa de tua alma ao mundo,
e a tua linguagem foi transparente e límpida
como o coração do teu príncipezinho.
Cada pedra de tua cidadela interior
recende a perfume de tuas laranjeiras
"convém libertar a árvore e ela desenvolver-se-á
com toda liberdade" (*)
Enquanto amavas a liberdade, os homens
não se reconheciam mais, e estilhaçavam
seus tristes espelhos,
para não verem mais seus rostos.
Enquanto um ser humano partia e
"se tornava montanha e barrava o horizonte" (*)
hoje à luz de todas as estrelas o homem
se auto arbitra em trevas.
Mas tu permaneces, como as raízes,
como as tuas sentinelas a velar o essencial,
para que os rivais da alma humana
não destruam as rosas, não podem os laranjais,
não armem redes invisíveis para apanhar
a argila humana, aquela que tanto amavas
"Só o Espírito, soprando sobre a argila,
pode criar o Homem" (*)
(*)Saint-Exupéry
Talvez alguém se pergunte porque escrevo tanto sobre Saint-Exupéry. Meu amor por sua obra data de muitos anos, quando ainda adolescente. Sempre vivo relendo seus livros maravilhosos. Redigi o texto sobre ele, há muitos anos, para o programa da peça O Pequeno Príncipe, vencedora do troféu Gralha Azul de Teatro do Paraná. Não poderia conceber o mundo sem "Terra dos Homens", por exemplo. Ele tem sido, ao longo de toda minha vida, meu amigo, meu irmão, meu mestre. Ensinou-me a amar a palavra escrita, as metáforas e, principalmente, me deu a consciência da missão da palavra na construção de um mundo melhor.