É NÓIS, UAI...
O galo infla o seu peito
metido a tenor, é o seu jeito
abre a sua cantadeira
anunciando a nova aurora
acordando o roceiro
pra sua vida mateira.
Trupica no tamborete
solta um palavrão
mais não cai, uai.
Fogão já em chamas
lambendo a bunda das panelas
fervilha o café e o leite
assando o bolo de fubá
enquanto no curral Zé ordenha
ao lado com milho, há um jacá.
O Bule já ali na mesa
de baixo há tamboretes
Um bolo já na gamela
que será a sobremesa
servida também no jantar
tem bolo de Tareco
que dia nenhum há de faltar.
Água fervente na boca da chapa
dentro de uma grande vasilha
enquanto esquenta e fervilha
será depenado um penoso
que será frito no óio
quando espirra até no zóio
será servido no almoço com carinho
regado à muitas iguarias
vamo cumê gente...
é frango à passarinho.
Zé lá fora na lida do leite
Maria no rachar da lenha
mulher de fibra danada
Zé apartando o gado na invernada.
Zé arreia o seu cavalo Brabeza
monta na sua sela feita em couro curtido
vai apartar o gado com muita destreza.
Maria já grita trepada na porteira:
- Zé, a boia ta na mesa!
Sua voz ecoa nas pradarias
chegando ao pé do seu ouvido
puxa a rédea e fala com o seu Baio:
- Vamo embora cumê a boia da Maria!
A tarde já se faz noite
lamparina acesa no rabo do fogão
Zé com seus pés dentro da bacia
simplório, com as calças já arregaçadas
toma o seu banho de gato
é o que na época se fazia.
O galo canta novamente
parece que nem dormiu
esfrega seu zói mais uma vez
e grita a Maria:- Acorda uai!
ela responde:- Já vai,uai....
Há um novo raiar lá no Fundão
na roça deste homem simples
que expressa um tanto quanto errado
mas que faz o progresso desta nação.
Feliz do homem do campo
que tem de tudo em suas mãos
tem trabalho e muita labuta
é feliz ao seu jeito
muito bem recompensado
à sua maneira e seus trejeitos.