QUANTO A VOCÊ...

No começo era amor. Por muito tempo foi um profundo amor. Aquele amor dos sonhos, “escrito nas estrelas”... fantástico amor. Depois, não sei por que, passou a ser dor. Dor de verdade, daquelas danadas, que fazem chorar. Depois passou a ser saudade. Saudade ácida, corrosiva, pungente, doída demais. Fiquei em pedaços. Em minha memória, só retalhos. Retalhos coloridos de tudo de bom que vivemos e que não mais existia. Infelicidade era o meu nome. Quase não suportei. Minhas estruturas ficaram seriamente abaladas. Virei uma morta viva pelas ruas frias. Uma... ninguém! Perdi a noção de tudo e quis morrer numa vala qualquer.
Mas, aos poucos aconteceu um milagre. Sim, algo divino, sem explicação! Você foi ficando longe, desfocando, diminuindo, desaparecendo. Alguns dias depois, eu vi você entrando num redemoinho, sendo tragado pelo vento. Depois disso, nunca mais te vi. Desapareceu, afinal. Em seu lugar ficou um rastro, uma vaga sombra, uns resquícios esmaecidos.
Então, levantei-me. Levantei a cabeça e quis viver de novo. Segui, ainda cambaleante. Passo a passo, como criança que começa a andar, reestruturei-me. Consegui esquecer a dor que sua ausência me causou. Hoje você é uma doença curada. Hoje você é nada. Até já consigo sorrir quando me lembro de tudo. Confesso: sou outra. Tornei-me mais madura. Sobrevivi, a duras penas, e vou vivendo. Bem melhor que antes, até ouso dizer. Quanto a você... bem... quem é você mesmo...?