SOMOS TODOS SEVERINOS/O MAIOR FRACASSADO
Sim, somos e morremos um pouco a cada dia
Nas favelas morremos um pouco a cada dia
Nas mansões, morremos um pouco a cada dia
Nas baladas, morremos um pouco a cada dia
No futebol, morremos um pouco a cada dia
Na política, morremos um pouco a cada dia
Na falsa paz, morremos um pouco a cada dia
Nas fábricas, morremos um pouco a cada dia
Nas estradas, morremos um pouco a cada dia
Com a seca, morremos um pouco a cada dia
Com a chuva, morremos um pouco a cada dia
Com pressa, morremos um pouco a cada dia
Sem nada, morremos um pouco a cada dia
Com tudo, morremos um pouco a cada dia.
CLEIDE DA CRUZ
Ele fez do Viaduto do Chá seu flat porque seu barraco foi desmontado pela polícia
Pulou da ponte Rio-Niterói ao não conseguir ser aprovado no vestibular da Federal
Cortou os pulsos e ficou um dia inteiro aguardando até ser depositado numa maca no corredor do Hospital de Base
Foi agredido no estádio depois de xingar os jogadores que deixaram seu time perder
Foi espancado pela policia ao sair chutando portas de lojas depois de ter broxado com uma prostituta
Rasgou o diploma depois de caducar a validade do concurso em que fora aprovado
Detentor das maiores decepções decidiu não tentar morrer. Até a morte o rejeitava.
JOEL DE SÁ