SOMOS TODOS SEVERINOS/O MAIOR FRACASSADO

Sim, somos e morremos um pouco a cada dia

Nas favelas morremos um pouco a cada dia

Nas mansões, morremos um pouco a cada dia

Nas baladas, morremos um pouco a cada dia

No futebol, morremos um pouco a cada dia

Na política, morremos um pouco a cada dia

Na falsa paz, morremos um pouco a cada dia

Nas fábricas, morremos um pouco a cada dia

Nas estradas, morremos um pouco a cada dia

Com a seca, morremos um pouco a cada dia

Com a chuva, morremos um pouco a cada dia

Com pressa, morremos um pouco a cada dia

Sem nada, morremos um pouco a cada dia

Com tudo, morremos um pouco a cada dia.

CLEIDE DA CRUZ

Ele fez do Viaduto do Chá seu flat porque seu barraco foi desmontado pela polícia

Pulou da ponte Rio-Niterói ao não conseguir ser aprovado no vestibular da Federal

Cortou os pulsos e ficou um dia inteiro aguardando até ser depositado numa maca no corredor do Hospital de Base

Foi agredido no estádio depois de xingar os jogadores que deixaram seu time perder

Foi espancado pela policia ao sair chutando portas de lojas depois de ter broxado com uma prostituta

Rasgou o diploma depois de caducar a validade do concurso em que fora aprovado

Detentor das maiores decepções decidiu não tentar morrer. Até a morte o rejeitava.

JOEL DE SÁ

Joel de Sá e Cleide da Cruz
Enviado por Joel de Sá em 21/07/2014
Código do texto: T4891170
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