JÁ VAI MUNDINHO

Já vai Mundinho,

saindo bem cedinho de casa

com o seu carrinho de mão;

tão raquítico, tão desnutrido,

tão sem porvir carnal promissor;

sai sem tomar café com leite

e pão com manteiga;

com as vestes surradas,

com os olhos remelentos,

com os pés descalços,

com o corpo franzino

tiritando de frio, na fria

manhã da árdua vida

que leva, arrimando

a família pobre, num mundo

tão cruel, tão infernal.

Já vai Mundinho,

saindo bem cedinho de casa

com o seu carrinho de mão;

mora com os pais e mais

dois irmãos também menores;

o pai é biscateiro e alcoólatra,

e a mãe é catadora de lixo;

os pais não quiseram estudar,

e criam os filhos sem educação,

sem lazer, sem estrutura doméstica;

o bolsa-família é migalha dada,

pela corja corrupta no poder;

mas Mundinho suporta,

com humilde resignação,

as provações porque passa,

perseverando no amor, no bem,

visando sempre avanço moral.

Já vai Mundinho,

saindo bem cedinho de casa

com o seu carrinho de mão;

vai trabalhar na feira,

levando carrego às donas-de-casa;

vai ser útil à família,

mesmo em idade pueril,

mesmo não tendo a idade

adequada, a enfrentar

a árdua lida diária da vida;

apesar do corpo frágil,

mas a sua alma é forte,

a sua alma é aplicada,

pois recebe proteção,

bênção e iluminação de Deus.

Já vai Mundinho,

saindo bem cedinho de casa

com o seu carrinho de mão;

mesmo sendo menino pobre,

sem recursos econômicos,

vai ser honesto na vida;

vai mostrar à família,

à sociedade, ao mundo,

que não precisa virar marginal,

que não precisa usar droga,

roubar, beber, fumar;

que não precisa ser violento,

que não precisa ser revoltado

ou viver em desamor consigo

e com o próximo, só porque

passa por maus momentos

de agruras, num mundo

ainda tão desigual; pois Mundinho

sabe, por mera intuição

de sua alma boa, que a vida

é um ciclo contínuo de melhoria

evolutiva; e que haverá um

tempo de muita igualdade

social entre as pessoas;

que os maus momentos

de hoje, serão convertidos

nos bons momentos de amanhã;

intuitivamente, Mundinho

sabe disso, não como ser carnal,

mas como ser espiritual,

estagiando no vaso corpóreo

finito; mas haverá outros vasos

corpóreos, nos quais a sua alma,

decerto, bem mais depurada,

vai poder continuar se alojando,

numa Terra vindoura bem

mais melhorada moralmente;

a Terra Paradisíaca, que todos

nós, no porvir, almejamos

habitar, com inefável felicidade.

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 21/07/2014
Reeditado em 15/01/2021
Código do texto: T4890270
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