Vida mudada
E lá vinha o senhor José com seu carro de bois trazendo capim para o gado. Tirando o chapéu de palha para cumprimentar a aqueles que por ele passavam.
O trabalho dele começara cedo, antes do nascer do sol.
Acordava com o despertador tiqueando ao lado da cama, em cima de um criado antigo.
Tranquilamente ele levantava-se, fazia sua oração ajoelhado ao lado da cama e após sua higiene pessoal ia para a cozinha fazer o café.
O café fumegando na xícara de louça e tirando biscoitos de uma lata de alumínio, ele fazia seu desjejum. Vestido com calças jeans que ganhara do irmão que veio da metrópole visitá-lo, camisa de flanela acompanhada de um cachecol no pescoço, jaqueta e botas de couro ele saía cedo para o trabalho na roça. Tirar o leite das vacas, lavando as tetas com bucha e sabão de barra, feito na fazenda mesmo. Retirar um pouco do leite num balde de alumínio para seus filhos e colocar a maior parte em latas grandes, também de alumínio, para o leiteiro passar com seu caminhão e levar para a cidade.
Depois, sempre satisfeito, ele levava o leite até sua casa onde sua família já estava quase toda acordada. As crianças sem qualquer distração moderna observavam as galinhas, patos, marrecos, perus e seus filhotes, soltos no terreiro. Quando o pai chegava e eles iam tomar café com leite.
Cada um sabia das suas tarefas para ajudar aos pais.
Dar milho para as galinhas, patos, marrecos, perus e aproveitavam para brincar de correr atrás deles.
Pegar os ovos no ninho, quentinhos.
Uma galinha com o ninho cheio de ovos para chocar, doze!
Ajudar a lavar o chiqueiro, calçados com botas sete léguas.
Jogar água nos porcos e brincar de montar neles para vê-los correrem jogando-os no chão. Risadas espontâneas.
Às vezes o senhor José ia ao pasto de madrugada ajudar a uma vaca parir. As crianças ficavam curiosas para verem, mas ele não deixava.
Só viam o bezerrinho no dia seguinte.
As patas chocando praticamente dentro da lagoa, á margem e depois saía nadando com aquela fila de patinhos amarelinhos atrás dela.
Escola, só a rural, numa fazenda e aprendiam mesmo a leitura, escrita de textos e palavras e cálculos, escritos e orais. O pai ou um empregado da fazenda levavam as crianças numa charrete.
Passeios na mata com o pai era a diversão dos filhos, pescavam e colocavam os peixes no cambão, catavam lenha, nadavam, colhiam flores e frutas no mato. Voltavam para casa sorridentes. Televisão, ainda não conheciam, somente o som do rádio que além de músicas ouvia-se novelas.
Á noite, sob a luz do luar brincavam e iam dormir quando os pais mandavam.
Quanta saudade dos biscoitos feitos no forno à lenha e guardados em lata de alumínio. Os bolos, as roscas, as broas.
Das carnes guardadas em latas com gordura, para conservarem o sabor e tão gostosas depois de fritas!
Fartura de verduras, legumes e frutas, apanhadas nos pés, sem conservantes.
Ah... A vida mudou!
Mas boas recordações deixou!