Laura (releitura de um texto)
Não como, nem bebo, nem vejo, nem sinto. Não há um centímetro de mim, em mim, que se mova, ou comova, ou corroa, ou coroe cada passo, e passo a palavra àquele palavreado - de palavras, é certo - que nem soam, nem cantam, nem brindam, nem amam, sequer espantam o que quer dizer.
Não sinto, nem em mim ecoa o sentido do que foi dito, bendito, porque o cínico morreu na terra do maldito. O vinho azedou, o vinagre culminou numa boa salada, mas o vinho velho envelheceu e lá ficou, esquecido até apodrecer.
Nem Laura, nem Lauro, nem louro, nem cominho, nem sal, nem azeite, nem dor, nem flor, nem Sol que rebente da escrita, não sei se broto grande, ou oceano pequeno.
Ressoa-me no som dos ouvidos o bramir das taças, dos copos, dos bêbados, embebidos em boa conversa. Reverbera em minha mente o rangir dos dentes de Laura que pulou da sacada de taça e salto na mão e fez do salto um salto qualitativo que elevou seu espírito e voou até o chão; que belo vestido! Quanta sujeira, não?!