Clarear da Noite
Eu te vi no meu olhar, dentro de mim, clamando por libertação, mas não posso deixar-te sair, pois temo que na tua libertação eu passe a ocupar o teu lugar, cativo em mim. Antes a tua dor que a minha, pois mesmo que esta dor seja em mim, no meu carcere, não posso te deixar partir, pois o teu voo será o meu rastejar.
Fique, fique em mim(!), não relutes, não deseje ir além da vitrine dos meus olhos. Viva, viva em mim (!), deixe-me te carregar no útero que sou. Mas acalma-te! Haverá um dia em que te deixarei partir, em que estarás livre no jardim da ignoscência...
Quando eu beijar a terra que cobrirá meu cadáver, então poderás partir, mas antes, te imploro o silencio, a submissão, te imploro as correntes que te dou no clarear da noite.