Cordilheira

Nômade, peregrina...devasso os caminhos

tentando ir ao encontro dos deuses desarmados

em seus nichos.

Queima o oxigênio do coração.

Camarada - me dizem,

ouve o aviso dos habitantes.

Longas, cheias de armadilhas

são as trilhas nessa ascensão.

As interrogações me perseguem.

Não quero subestimar o passo irretocável

de minha alma. Sei do pináculo exposto

aos olhos vermelhos de quem chegar.

Tenho apenas uma pequena noção

da luz que levo nessa candeia.

Arreio os animais dos sentidos

para poder prosseguir em marcha

ao cume do sonho,

com um séquito de mil poemas.

Não - não são suficientes. Sei disso.

Porém chegarão antes de mim

a esse país que não conheço.

É difícil distanciar-me

desse cerimonial de mãos vazias

e de todos esses rostos que desconheço.

Mas estou de passagem

entre o céu e minhas vestes.

Entre essas estrelas e essas brumas.

O que me persevera é esse fascínio de luar

dentro da noite, quando esqueço

do meu baú de mapas interiores

já esvanecidos.

Sons de violinos rochosos

respiram o mesmo ar que eu

e os acompanho, desavisada,

em minha ilusões.

Ao amanhecer, diviso

meu fiel escudeiro

- esse rio congelado

onde deixei ancorado o coração.

(*) republicação, 2008.

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 14/07/2014
Reeditado em 14/07/2014
Código do texto: T4881960
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