QUARTO CRESCENTE
A noite deitou calma nos olhares fim de outono quase inverno, cobertos por quereres vários e vontades já sem sono. Entre carícias macias e afagos sussurrados pouco a pouco iam sendo satisfeitos e a mansidão da fala aconchegava-se nos dois peitos. A brisa, que brincava na janela engordando as cortinas, escapou por uma das beiras, rodopiando faceira por toda extensão do quarto animando o seu crescente. A lua ao ouvir tanto alvoroço, esticou-se à janela para contemplar a imagem. Encantada com com o que viu, estendeu na madrugada um véu todo salpicado de pedrinhas rutilantes. E para completar a cena, solicitou ao vento do instante que soprasse um doce aroma de rosas, alecrim e de verbena. Atendida prontamente, cada canto desse quarto era de puro perfume e o lume vaporoso que trazia, cobria esses olhares com grandeza em ternura tanta que a noite adormeceu amolecida, perdendo o encontro com a aurora . Ao acordar, pensou mesmo em ir embora mas logo percebeu que já era hora... era hora de voltar.
QUARTO CRESCENTE – Lena Ferreira – jun.14