DESACERTOS
Penso muito antes de agir, e por pensar muito, ajo pouco.
Pesa-me acreditar que meus erros serão fardos,
assim como pesa-me seguir pensando muito e agindo pouco.
Quantos conheço que erram,
e pergunto-me se ou não se importam se erram,
ou crêem que seus atos não são erros e sim aprendizagens de viver,
e seguem agindo sem a preocupação de errar.
Se os atos que cometem - quando para mim são erros - dão-lhe a certeza de vida,
os que deixo de cometer serão sempre mais acertos e menos vida?
Viverei o suficiente (se é que hajam medições de vida) por agir menos e errar menos,
ou viverei pouco por acertar muito não agindo?
Assim resta-me a insubstância do gozo ausente por agir pouco
e a dúvida de que, se não ajo, erro pouco e vivo pouco,
e se ajo muito, viverei intensamente mesmo errando.
A primeira faz de mim um sujeito errante na vida,
que erra não agindo para errar pouco, porém vivendo poucamente;
à segunda, agindo muito viver mais, mesmo errando na medida (se é que hajam medições de vida) de viver.
Talvez erros e acertos sejam somente somas de meus limitados conceitos do que é o mundo dos homens, e restrito estou nos atos de mim como os atos em mim sujeitam-me às normas sociais e do que julgam ser erro e acerto.
Ou limitam meus atos, ou muito estou limitado ao que me exigem e exijo como acertos.
E se acerto muito agindo pouco e portanto errando menos, o mundo exterior é maior que o sujeito que há em mim.
Se ajo crendo contrariar meus conceitos de bem e mal, certo e errado, bom ou mau, sofro, e se não o faço, também sofro, porque restará sempre o vazio do não-ato.
Acerto mais porque ajo pouco por pensar muito ou
ou erro muito pensando que ajo pouco?