TEDIOSAMENTE INÚTIL

Ah! As ilusões com que um dia quis,

e as tendo querido,

tê-las vestido com o cansaço incongruente da palavra amor.

O tédio longo de perder-se aos poucos

nas ilusões do querer em pedestais falsos,

como viajante que se afasta de terras estranhas

que desejou um dia morrer como pátria adotada!

Ou por primeira vez ter querido com o estranhar que ilusiona,

Ver do cimo do próprio sentimento o espiral de sonhos

que se perdem à distância dentro de si como dor que não se cura,

em vão sentir a mágoa fútil sem medida e fome!

Desintoxicar dos resquícios do entorpecer de um primeiro vício,

da lástima de ter sentido como gemido da intuição!

E da altercação de um segundo desejo,

recolher sobras e restos do desatino débil em mim!

Dedos ávidos, como náusea física de um querer também inútil,

do corpo inteiro somente reflexos do olhar que se distancia.

Ah! Esse intervalo de sentir com a mesma inutilidade de ter sentido,

a ilusão de um dia ter querido com a mesma morosidade de perder sentindo!

Tudo desacreditado, tão tediosa e morosa e dolorosamente inútil...

Um morrer que não tem data por gotejar tão lentamente...

Tão lentamente...

Lentamente...

Da mesma inutilidade de saber que nada será para sempre,

a não ser esse sempre que persiste em mim

como sentimento que não se apaga...

Talvez! Continuar a ter ilusões de perder-se em novo querer...

E voltar à distância de menino...

E reviver.