Flores de sangue
"Nunca vai acabar", disse-me Astarte, aquela jovem e inexperiente criancinha pela qual me apaixonei, quando segurei suas mãos pela primeira vez e a beijei, trêmula, sob o crepúsculo de dezembro.
"Nunca vai acabar", disse Astarte quando deixei que ela se deitasse em meu colo e dormisse como um bebê – nunca ela dormira tão bem e serena como naquele dia.
"Nunca vai acabar", disse Astarte quando deslizava minhas mãos por seu corpo, tão alvo, puro e esbelto como o de um cisne, e deixava meu olhar singrar os lagos de ébano dos olhos dela como algum marujo à procura de novas terras.
"Nunca vai acabar", disse Astarte aos prantos quando coloquei a tão sonhada aliança em seu dedo, e estendi-lhe um buquê de recém-colhidas tulipas vermelhas.
"Acabou", digo eu sempre que vou me sentar nas planícies onde tudo já morre ao nascer. Lá, deixo que a lâmina que sempre carrego comigo em meu bolso faça seu serviço.
Que peculiar! As manchas de sangue tornam-se tulipas quando tocam o solo.