[Travessia: Signo da Vida]

[Um convite te faço: viaja meus olhos adentro — viaja?!]

A lonjura no piado do nhambu,

o alarido das maritacas,

o canto do pássaro preto,

o aviso ingênuo da fogo-pagou,

o grito carniceiro do gavião,

o berro sonoro de um garrote,

os gemidos do vento nas folhas dos bacuris —,

ais nunca esquecidos do sertão,

escutados — eu juro! — nas horas lentas

de numa noite solitária em New York!

Nas lufadas dos ventos frios do outono,

gira assim, perdida num longe de Minas,

a efêmera primavera da minha vida...

e o que é a vida?! Estúrdia questão! —

Imprevisibilidade, impermanência, incerteza...

A festa das circunstâncias sufocantes,

a carga cruciante das tantas perdas,

a guerra começada com os primeiros vagidos,

o volteio no ar das laçadas caindo no vazio,

e sempre, lançada de soslaio sobre a paisagem,

aquela visão às vezes apenas nostálgica

dos muitos paraísos perdidos na caminhada...

Travessia — mais comumente chamada — vida!

______________

[Penas do Desterro, 15 de maio de 2007]