Eu ainda vou lhe contar como foi essa solidão,
foi de silêncios esparramados por toda a casa
e de lembranças caladas no amarelo dos retratos.
Foi de uma tristeza a restar no fundo dos fatos,
foi de uma dor anunciar a chegada de cada instante,
foi de uma melancolia que sempre vinha abrir o dia
e de uma angústia, à noite, a me fechar os olhos.
A escuridão me toma e o vazio me cobre, tudo tão pobre,
e o medo de tudo ser para sempre me traz um intenso frio.
Faz frio onde não rio mais, onde não há rio nem árvore,
a vida sem você é uma paisagem desolada que vou lhe contar.
E dei de esconder meus desertos e disfarçar os meus abismos,
inutilmente fiz de conta que toma conta de mim um amor sem fim.
Eu vou lhe contar o quanto queria sair disso e não podia;
e quando pude eu pude perceber que não mais queria.
Eu vou lhe contar ainda quantas vezes fiquei olhando para a porta
e você não vinha, motivo para tanto não tinha, não era mais minha.
E quantas vezes vi ali você na janela, o vento lambia seus cabelos.
E quantas vezes que para lhe ver tive que ir a meus pesadelos.
Eu vou lhe contar ainda tanto que nem sei o quanto eu diria,
que eu queria devolver todas as suas coisas que me pesam,
para eu poder seguir na lida lidando com as coisas da vida,
porque não sei mais o que fazer com elas, a minha vida e as suas coisas.
Então leva tudo daqui, os seus olhos em mim e os lábios, o seu cheiro;
e me diga se são seus alguns sorrisos esquecidos aqui e ali.
E leva também a melodia de sua voz a me dizer as coisas mais banais,
leva daqui tudo o que não é mais meu e vê se me deixa em paz,
que eu não aguento mais tanto dessas coisas que ainda vou lhe dizer,
antes que a vida me leve ou me leve a lutar tanto por esquecer.
Eu ainda vou lhe contar, por fim, talvez porque seja melhor para mim,
como nunca foi assim tão fácil pegar essa dor e transformar em poesia,
porque essa dor é de verdade e a ela damos o triste nome de saudade
foi de silêncios esparramados por toda a casa
e de lembranças caladas no amarelo dos retratos.
Foi de uma tristeza a restar no fundo dos fatos,
foi de uma dor anunciar a chegada de cada instante,
foi de uma melancolia que sempre vinha abrir o dia
e de uma angústia, à noite, a me fechar os olhos.
A escuridão me toma e o vazio me cobre, tudo tão pobre,
e o medo de tudo ser para sempre me traz um intenso frio.
Faz frio onde não rio mais, onde não há rio nem árvore,
a vida sem você é uma paisagem desolada que vou lhe contar.
E dei de esconder meus desertos e disfarçar os meus abismos,
inutilmente fiz de conta que toma conta de mim um amor sem fim.
Eu vou lhe contar o quanto queria sair disso e não podia;
e quando pude eu pude perceber que não mais queria.
Eu vou lhe contar ainda quantas vezes fiquei olhando para a porta
e você não vinha, motivo para tanto não tinha, não era mais minha.
E quantas vezes vi ali você na janela, o vento lambia seus cabelos.
E quantas vezes que para lhe ver tive que ir a meus pesadelos.
Eu vou lhe contar ainda tanto que nem sei o quanto eu diria,
que eu queria devolver todas as suas coisas que me pesam,
para eu poder seguir na lida lidando com as coisas da vida,
porque não sei mais o que fazer com elas, a minha vida e as suas coisas.
Então leva tudo daqui, os seus olhos em mim e os lábios, o seu cheiro;
e me diga se são seus alguns sorrisos esquecidos aqui e ali.
E leva também a melodia de sua voz a me dizer as coisas mais banais,
leva daqui tudo o que não é mais meu e vê se me deixa em paz,
que eu não aguento mais tanto dessas coisas que ainda vou lhe dizer,
antes que a vida me leve ou me leve a lutar tanto por esquecer.
Eu ainda vou lhe contar, por fim, talvez porque seja melhor para mim,
como nunca foi assim tão fácil pegar essa dor e transformar em poesia,
porque essa dor é de verdade e a ela damos o triste nome de saudade