VALSANDO AO PASSO SAUDOSO DOS SEUS OLHOS
Sem perceber, caminhei, cansada e feliz, para o jardim.
O cheiro de primavera , as rosas chorando orvalho, me convidavam para o canto maior de minha felicidade.
Queria a paz do silêncio, depois da dança.
Uma lua imensa dizia ao meu coração que a doçura não havia acabado - ela continuava ali. Sentidos diversos de entrega da natureza molhando a vida, como o friozinho do inicio de dia, as ultimas manchas de tristezas sendo lavadas por um brilho dourado , apenas aquecendo o frio da alma, sem deixar suor de vida.
Havia sido uma linda noite...mágica.
Eu e você - em uma multidão imensa.
Você e eu, somente, misturados a milhares de vozes e rodopios , cantamos nossos silêncios, falamos nossos olhares, beijamos nossas distâncias, tocamos nosso desejo e ...bailamos.
Eu sempre soube que na magia de um caminho de amor, o que menos conta são os fatos. Realidade nunca combinou com encantamento. Deuses entendem disso - por isso, são tão tão virtuais...
Meu coração valsava ao passo saudoso dos seus olhos. Durante minutos tão meus, não percebi que a dia me chamava, que a noite me estendia seu lencinho branco.
Mas, se a lua ainda estava lá ? E um finalzinho de escuridão teimosa sorria pra mim? Desisti de entender o sonho. Aos quinze anos, não se sonha ....delira-se. E em meu desvario lúcido, apaixonado, afastei uma mecha de cabelos perfumada por laquê cheiroso, ajeitei a barra do longo vestido rosa clarinho , deixei cair, sonolenta, uma echarpe de seda branca e flutuei para minha carruagem, onde um tímido principe me aguardava, ruborizado, diante de tanta ousadia.
Um selinho molhou minha alma de ternura.
- Meus parabéns, querida !
Um restinho de orquestra ainda tocava os Bee Gees.
E meu baile de debutante rasgou a cortina da vida.